Sunday, August 26, 2012

Le Moi Errant: Soy Latino

Chego a um sitio novo para descobrir que estou em casa. A viagem é longa. Apesar da proximidade humana, que tudo une neste planeta, a Asia é feita de desconforto. Quando saí no aeroporto de Medellin foi um choque. Reconhecia de novo todos os pequenos pormenores. Sabia como andar e o que fazer. Já nao tinha que pensar muito. Aliás já nao o tinha de o fazer. Tudo era natural em mim.

Foi um conforto desconfortante. Nao sabia reagir a este calor humano. Muito similar a tantos outros e original na sua essência. Uma vez mais segui o rumo da minha viagem enquanto apreciava o "con mucho gusto" sempre que agradecia por um serviço. E nos passos que se seguiram um pequeno pensamento-emoçao nascia dentro de mim: Soy latino!

Nao é um choque, mas antes uma confirmaçao. Algo que se sente e por vezes se esconde. Mas que uns tempos de ausência fizeram explodir este sentimento, com uma força inimaginável. 

Crescer no mundo latino é crescer num que se rejeita. E com isso rejeitamo-nos. Um sentimento que gosto, mas que se funde com uma paixao sincera por nós próprios. Neste mundo existem escritores e cafés. Existem afeiçoes expressas por gestos e um sorriso em cada esquina. Existe a desconfiança pelo próximo e a proteçao do vizinho. E existe muita "fiesta"... celebra-se a vida sempre que se pode. Sendo certo que se pode sempre.

E por aqui acabei por descobrir a essência das minhas contradiçoes. Ela nasce de onde dei o meu primeiro choro. E desde esse momento nao me largou mais...

Friday, August 24, 2012

A ocasiao que o ladrao fez...


NOTA INICIAL: Por motivos que explicarei mais abaixo, perdi todos os meus artigos sobre a Colombia. De forma a nao demorar ainda mais tempo resolvi este breve resumo da minha aventura colombiana…  Ah, e peço desculpa pela falta de acentos em algunas palabras, mas ainda me estou a habituar a um teclado espanhol.

Cheguei com sons de tambor. Nao eram para mim, mas sentí-os dessa forma. Uma festa que me abria o coraçao a este país. O meu corpo sentia a latinidade em cada pormenor. A ansiedade era grande. Afinal todos conhecem a fama desta terra, mas poucos conhecem a sua realidade. Eu nao era diferente.

Para me receber estava Medellin e nela Alejandro, com as portas abertas do seu hostel e do seu coraçao. Esta cidade é mais conhecida por um dos seus antigos habitantes: Pablo Escobar. Uma figura incontornável nesta cidade, mas uma que a energía e força dos seus habitantes conseguiu ultrapasar. Hoje é uma cidade “hermosa” que nos presenteia com arte, beleza e muita alegría.

No início o receio. Nao sou imune a famas (mesmo que sem sentido) e sempre que entro num “mundo” diferente faço-o devagar. Demorei a entrar no mundo de Medellin. Mas “@s gord@s” de Botero romperam o meu entrave inicial e a partir daí estava aberto para apreciar as belas praças, o parque (e atençao que por aquí isto significa estar no meio de uma selva imensa apenas 10 minutos depois de sair de Metrocable da cidade) e todos os pormenores encatadores desta cidade.

Santo Domingo (Holy Sunday) Santo Domingo foi o meu highlight. Um dos bairros mais perigosos, da cidade mais perigosa, é hoje uma atraçao turística. Tudo em menos de uma geraçao. Nao sei como conseguiram, mas foi um verdadeiro milagre. Algo que ensina-nos da força e capacidade deste país. Senti-me esmagado enquanto apreciava a espetacular paisagem na varanda da Biblioteca Espanhola. Os laranjas das casas descem pelas encostas verdes que protegem este pequeno paraíso.

Com esta amostra, parti ansioso para Cartagena. Queria conhecer mais deste país.. E por pouco nao perdia a oportunidade de conhece-la. O meu plano original era apenas ir a Santa Marta para fazer um trekking e Bogotá. Depois partiria para o resto da América Latina. Mas a expressao de Alejandro ao falar de Cartagena fez-me reformular os meus planos. A primeira de muitas.

Black on yellow E Cartagena deu-me a conhecer o amarelo. O das suas paredes e calor. Um que envolve a simpatía e os seus habitantes. Cartagena é bela e hipnotizante.  Quer seja pela beleza do seu centro histórico colonial, quer pela oportunidade de estar no meio do Caribe quando vamos a Isla del Rosario.  E foi no meio do Caribe que me pacifiquei uma vez mais. Passou mais duma década desde que tinha mergulhado nas suas águas. De lá para cá um mundo novo dentro de mim. Foi um retorno diferente do que esperava. A uni-los a mesma alegria enquanto mergulhava.

Mas Cartagena significou tambem uma grande mudança na minha viagem. Enquanto passeava por sites - no jardim interior da vivenda colonial que morava - descobri que a parte “pobre” da viagem tinha começado.  Fui ao site do banco e o saldo era menor do que esperava. Numa outra altura isso ter-me-ia demolido. Hoje sentí que necessitava deste impulso para completar a viagem. Desde o início que queria ter uma experiência de trabalho ou voluntariado mas a preguiça sempre o adiou. Agora nao tinha alternativa. E isso deixava-me contente.

Simple happiness II Foi com este espirito que cheguei a Santa Marta. Um porto de passagem para quem quer conhecer as pérolas à sua volta. Existem poucas regioes que te oferecem tanto como esta. Tens o Parque Natural de Tayrona com as suas praias paradisiacas, que tens de conquistar com uma caminhada de uma hora pelo meio da selva. Tens Minca, um eden verde e montanhoso que serve de ponto de arranque para o Trekking da Ciudad Perdida. Ou se quiseres ir mais além tens a neve da Sierra Nevada…

Apesar de ter adorado todos estes cenários, levei de Santa Marta algo bem diferente. Um sentimento de pertença a uma familia. O corte orçamental fez com que ficasse  mais tempo no Hostel. E aos poucos fui ficando – só por esta altura é que Alejandro me tinha avisado que o único risco em Colombia é que queiras ficar – e conhecendo todo um conjunto de pessoas extraordinárias que me envolveram.

Também foi aqui que comecei a construir uma ideia  com consequências ainda imprevisíveis. No meio da pesquisa de trabalhos, passei por muitas ofertas de voluntariado. E se a maioria nao me atraía por ter de pagar, começou a nascer a dúvida sobre que tipo de voluntariado pretendía. Percebi, no meio de um turbilhao de ideias, que aquilo que mais quería era ajudar dando um pouco de mim. Assim nasceu uma ideia em torno da volta ao mundo e da fotografía.

Mas ainda necessitava de amadurecer essa ideia e o tempo era de partir para Manizales. Queria ter uma experiência mais profunda e um poster com a oportunidade de ir viver durantes uns días com uma familia rural tinha-me seduzido.

Cheguei a Manizales com uma cabeça cheia de ideias e um espirito â procura de outras aventuras. Antes de partir para Hojas Anchas conheci Jenny, a emprendedora do negócio social que estava a participar. Tinha vindo ter comigo para me saudar e explicar um pouco o que faria em Hojas Anchas. No meio das palavras trocadas um outro cambio, o de ideias. A mina ideia vaga combinava com a ideia que ela tinha para um dos seus projetos. Despedimo-nos com um até breve.

Era altura de conhecer uma outra Colombia. Uma feita de estrada de terra, shivas (autocarros de transporte) e casas dispersas por montes quase inacessíveis. A única coisa que já conhecia - e que voltei a rever - foi a enorme simpatía e coraçao caloroso dos seus habitantes.. Foi só um dia, mas naquela familia rural encontrei uma casa “enorme”. Uma daquelas experiências que enchem a tua alma de sorrisos e que ficam tatuadas na tua memoria. De tal forma que o adeus fica pesado e difícil de dizer.

Quando regressei era altura de confirmar as ideias trocadas. E desse momento até estar a trabalhar no projeto foi um suspiro. Entretanto mudei-me para a casa dos voluntários e entrava num mundo novo. A viagem abrandava o ritmo das milhas mas aumentava a de conhecimento. Creio que necessitas de parar um pouco sempre que andas tanto e este é o sitio perfeito para o fazer. E oportunidade puxa oportunidade e ali estava eu a fazer o meu primeiro trabalho como fotógrafo: cobrir um evento. E correu mesmo bem. Tanto que acabei por ter a sorte de uma fotografía que tirei ser publicada num jornal nacional da Colombia. Quando terminei o clima era de festa e eu sorria enquanto brindava a uma boa conclusao de trabalho.

Mas a perfeiçao tem de ser imperfeita e acordo no dia seguinte para descubrir…



…que o meu computador tinha sido roubado. Alguém tinha entrado e saqueado a nossa residência. O primeiro impato foi de choque extremo. Pensei que tinha perdido todas as minhas fotos e textos com o computador. Com o tempo descobri que afinal apenas foram as de Colombia.

Mas o duro golpe estava dado. E o que tinha acontecido obrigou-me a repensar toda a minha viagem. Mais que isso obrigou-me a olhar para o futuro para tomar uma decisao no presente. E ai percebi que muito tinha mudado…