Estás enganado. O odio ou a solidao nao te mata. Consomem a
alma, roubam o espirito e deixam-te vazio. Sao fortes e intensos. Do mais que
podes sentir. Levam-te ao desespero e mortificam-te.
Eu sei. Odiei-me durante anos. Ao ponto de nao poder ver o
meu reflexo. De nao querer nada do que era. O respirar era constante lembrança
desse odio. Da minha pena de viver. Uma vontade de desaparecer no vazio da memória
dos outros.
Eu sei. Vivi em constante solidao. Mesmo quando amei, nunca
fui completo. Sempre sentí a tua ausencia. Amei tao intensamente como estava só.
Vaguiei por entre pessoas. Uma ilha num mar de gente. Eu nao pertencia e nao me
pertenciam.
Mas nao se compara a isto. Tudo começa com um toque. Um que
te eleva a um estado puro. O sonho é real. Brilhas com essa energía. O sorriso
dispara pelos teus labios e olhos. Passeias os dedos pelas linhas de um corpo
que sempre conheceste e esqueces a dor do odio e o vazio da solidao.
Mas depois… e existe sempre um depois… por algo que nao
podes controlar, o toque afasta-se e aí conheces o que julgavas ser impossível.
Uma dor para além do teu odio. Um vazio para além da solidao que conheceste.
Cais exausto. Um ser sem vida, nem força.
Uma inexistencia à espera do teu toque …
Desenho de Valentina Gazalez Vargas