Monday, October 22, 2012

Le Moi Errant: O toque maldito

Estás enganado. O odio ou a solidao nao te mata. Consomem a alma, roubam o espirito e deixam-te vazio. Sao fortes e intensos. Do mais que podes sentir. Levam-te ao desespero e mortificam-te.

Eu sei. Odiei-me durante anos. Ao ponto de nao poder ver o meu reflexo. De nao querer nada do que era. O respirar era constante lembrança desse odio. Da minha pena de viver. Uma vontade de desaparecer no vazio da memória dos outros.

Eu sei. Vivi em constante solidao. Mesmo quando amei, nunca fui completo. Sempre sentí a tua ausencia. Amei tao intensamente como estava só. Vaguiei por entre pessoas. Uma ilha num mar de gente. Eu nao pertencia e nao me pertenciam.

Mas nao se compara a isto. Tudo começa com um toque. Um que te eleva a um estado puro. O sonho é real. Brilhas com essa energía. O sorriso dispara pelos teus labios e olhos. Passeias os dedos pelas linhas de um corpo que sempre conheceste e esqueces a dor do odio e o vazio da solidao.

Mas depois… e existe sempre um depois… por algo que nao podes controlar, o toque afasta-se e aí conheces o que julgavas ser impossível. Uma dor para além do teu odio. Um vazio para além da solidao que conheceste. Cais exausto. Um ser sem vida, nem força.  Uma inexistencia à espera do teu toque …



Desenho de Valentina Gazalez Vargas

Wednesday, October 3, 2012

Para ti, Nuno!


“O caminho traz sempre outros viajantes. (…) Falo de Nuno Cruz, um outro viajante português que se fez aos caminhos deste mundo. (…) Pelo meio, a promessa de um encontro, caso os nossos caminhos se cruzem.“

Escrevi estas frases há 10 meses atrás. Na altura estava longe de imaginar tudo o que seguiría. Mas retomo-as neste momento em que Nuno está a regressar a casa. A aventura dele nao termina, mas abre-se um novo e importante capítulo.

E agora, que ele pisa solo lusitano uma vez mais, dedico-lhe umas frases mais. Nao apenas porque merece, mas porque em espirito estarei tambem nesse aeroporto recebendo-o de braços bem abertos. Aquí vai, Nuno o meu texto. Espero que gostes:

Nuno,

Nem sei por onde começar. Qualquer palavra me escapa dos dedos e sinto-me impotente para descrever este momento que vais viver. Imagino o teu coraçao a pular num misto de alegria e saudade. Reconhecendo todos os cheiros e sons do Portugal que te corre no sangue. Quando as portas automáticas se abrirem, a tua presença aquecerá de novo o coraçao de quem te quer muito, enquanto os que estao por cá, por onde espalhaste a tua energia, ficarao a torcer os dedos para a tua nova aventura.

A tua vida continuará a mesma. Feita de encontros e despedidas. Um pouco há imagem do que foram os nossos caminhos cruzados. Uma loucura cada vez mais intensa, que teve mais um episodio brilhante aqui em Colombia. Os nossos próximos episódios serao passados na nossa cidade ao ritmo que aprendemos a sentir e construir. Claro, sempre rodeado de sorrisos, pois viver é isso mesmo.

Existem pessoas que ficam para sempre na história de um local, momento ou episodio. E tu tens essa energia. Aliás num dos caldeiroes que caíste foi o do red bull, tal a intensidade que vives. E isso é único.

Eu continuarei a terminar este capitulo da minha história, sabendo que pedaço do meu coraçao e alma já foi para Lisboa. Claro que fico à espera dos pasteis de nata, copos de vinho, pao com chouriço e outras coisas que tu vais agora degustar com palato renovado.

Em troca envio-te um pedaço de força e outra de boa sorte. Apesar dos Lucky Bastards que somos, um pouco de sorte nunca é demais.

E nao posso acabar esta carta para ti, sem te dar os parabens! Entregaste-te, foste tu e muito mais. Voaste, encantaste pessoas e até magia fizeste. Outro tipo de magia fazes todos os días com a tua forma de ser, com as tuas palavras e com a tua forma de olhar este mundo que pisas.

Un abrazo viajante, tremendo y apertado!



Trechos de Alma-Visualización.m4v from Joao Cardiga on Vimeo.

Tuesday, October 2, 2012

Le moi errant: Tristeza


Acordas uma vez mais dentro de mim. Contagias-me e eu bebo de ti. Deixo-te preencher minhas veias. És minha. Hoje saboreio-te com o teu toque agridoce. Sorrio enquanto choro.

Já nao te pertenço. Agora consumo-te como tu me consumiste antes. Danço contigo e encanto-te. Estás surprendida? Também eu. Sempre me apaixonaste, mas nunca te tive. Nao como agora. Aqui onde te posso tocar com uma doçura dura.

Nao te escondas. És bela. Talvez a beleza mais pura. És real e eu quero-te comigo. Amo a tua companhia e a tua luz que me guia. Longe vao os tempos que nao sabia quem tu eras. Uma estranha que me violava e me deixava vazio. Aparecias quando querias. Ainda o fazes. Mas é essa natureza selvagem que eu quero. Esse grito do fundo do ser que ecoa sobre o abismo vazio da solidao. Hoje és hipnotica e eu sigo-te uma vez mais. Agora e sempre…

Monday, October 1, 2012

11 meses


Escrevo com um misto de alegria, tristeza, saudade, nostalgia, brilho nos olhos pelo que tenho à frente e um enorme sorriso por tudo o que vivi nestes 11 meses. Uma salada russa. Mas uma que me satifaz por completo.

Ironia do destino quis que esta data coincidisse com a despedida do Nuno da América Latina. Hoje um grande viajante começa o seu caminho de regresso a casa. Por isso acordei de madrugada. Um “monstro cabeludo” felicitava-me pela data com um daqueles sorrisos que te aquecem o coraçao. Melhor forma seria impossível. Foram duas semanas que partilhei e que foram fenomenais.

Sem dúvida um privilégio. E foi com um pouco de tristeza que o vi partir para mais uma grande aventura. Mas, depois de tantas despedidas, já nao tens o sentimento de “posse”. Já nao queres que a pessoa fique. Sabes que cada momento da tua vida tem o seu tempo. Desapegas-te ao material e ficas com a emoçao. Sei que os nossos caminhos continuarao entrelaçados como até agora.

Quando o vi partir, foi mais um momento que completou estes 11 meses. Aí, na solidao de um regresso a um hostel muito mais vazio, a cabeça flutua pelos momentos que já vivi. E foram tantos… “Como cheguei aqui?” Nao consigo responder porque nao tem explicaçao. Tao pouco necessita de uma. Apenas precisas de a viver. Entregares-te a ti próprio e sentires todas as emoçoes.

Os meus 11 meses foram isso. Um palco de emoçoes. Cada vez mais intensas. Quando te entregas a uma viagem, entregas-te à vida. Passeias por palcos que te deslumbram e sorrisos que te esmagam. Viajas pelas vidas que formam o teu caminho. Brindas a mais um pôr de sol num mar caribe, ou saudas os vagabundos de uma cidade bela e dura como a de Bogota.

Tudo isto é teu mundo. Pertence-te e tu pertences a ele. Já nao cruzas fronteiras, passas burocracias. Já nao existem linguas diferentes, comunicas com os sentimentos. Vivemos uma única vida, partilhamos o que temos e entregamo-nos à nossa própria loucura.

Feliz 11 meses a todos os que fizeram a minha viagem!!!