Thursday, July 26, 2012

Fim de interlúdio

E com San Francisco termina este interlúdio. Muito ficou para ser escrito, mas sê-lo-á a seu tempo. Para a semana fica o arranque da nova temporada desta aventura. E o destino não poderia ser melhor: Colombia.
Levantando um pouco o véu, a próxima temporada vai trazer mais... confusão. Vão existir mais categorias de artigos. Assim a manta de retalhos vai ser ainda mais retalhada. No entanto, e para quem gostar de alguma ordem, ficam sempre os links das categorias aqui ao lado. Dessa forma conseguem ter um fio (mais) condutor das várias histórias que escrevo.
É possível que os artigos venham a ser um pouco mais espaçados no tempo. Tudo depende da estrada e da viagem. A vontade é a de escrever um artigo por cada dia útil. A realidade poderá ser um pouco diferente. Dentro das categorias que chegaram para ficar destaco a “Um dia em...” Criei alguma simpatia com a mesma e é possível que seja uma que apareça com mais frequência.
O foco é, como sempre, tentar aumentar a qualidade e tornar este espaço num espaço que também é vosso. Trazer-vos para dentro desta loucura de viajar e deixar-vos com um sorriso depois de passarem por aqui.
Bem Vind@s à Season 2 de No-mad :)

Wednesday, July 25, 2012

Cartas para ti... San Francisco


Car@ Leitor@,

“If you're going to San Francisco...” impossível não ouvir esta música - ou trautea-la - ao atravessar a ponte para chegar à cidade. Impossível também não sorrir em San Francisco. Aqui encontras os USA no seu melhor. Sentes no ar a liberdade tão apregoada. As pessoas, todas, são simpáticas. E isto inclui do doutor ao Mendigo. Uma abertura de espirito que te contagia de imediato.
A ajudar é uma cidade que encontras todos os grandes ambientes. Numa caminhada fiz praia, floresta e arranha-céus. É completa e completa-te. Uma daquelas cidades que aconchega as tuas emoções. E que emoções. Tal como LA, também por vezes senti-me num filme. Impossível desviar o olhar dos tenis calçados num conjunto de saia e fato, enquanto as mãos carregam os saltos altos.
E depois, bem, depois também é uma cidade cultural. Quer nas paredes das suas ruas, quer no meio da rua per si. Pela dica de Afonso acabei por ver o festival de Jazz de Filmore. Por entre os palcos milhares de pessoas - tão diversas como os americanos conseguem ser - passeavam-se. Entre bancadas, as barraquinhas de vendas, relembra-nos que este é o american way. O dinheiro está sempre lá, mas coexiste em harmonia com a cultura.
Existem cidades que se querem viver, e depois existem cidades que também são nossas. San Francisco também é minha. Foi uma rápida adaptação aos seus ritmos e truques. Mesmo alguns imprevistos. Como o de carregarmos no stop do bus por um cordel. Algo que já tinha visto na India, mas que não imaginava que tinha tido uma evolução tecnológica para este século. Mas isto é America. Tudo é possível. Até terminar com um High 5 a uma condutora de electrico.
Como adorei esta cidade. Não percas uma oportunidade de a visitar. Ela receber-te-á de braços abertos, sorridente e tranquila.

Um beijo e abraço do puto viajante,
Stran

Tuesday, July 24, 2012

Cartas para ti... L.A.


Cartas para ti... L.A.



Car@ Leitor@,

E de repente já estou noutro continente. Aliás, noutro mundo. Apetece-me dizer que LA não é nada como tenho visto... mas na realidade é o seu contrário. De tantos filmes e videoclips, quando me passeio pelas suas ruas é dificil sentir que estou num local. Mais parece que estou num filme. Tantas foram as vezes que vi estas ruas, estes carros de policia ou estas cabines telefónicas.
Mas LA não é apenas um filme. É uma cidade dura. Cheia de sonhos e pesadelos. Essa dureza marca o rosto dos seus habitantes. Sabes que aqui é preciso muita luta para se conseguir algo. Mas também se sente que és livre de o atingir. O bem e o mal.
No início assustou-me um pouco. A acompanhar a sensação de um cidade que não foi feita para andar mas sim para conduzir. Pior, a sensação de ausência de uma comunidade, mas sim a co-existência de várias.
Como sabes, eu sou um Lucky Bastard. E a minha sorte foi Miranda. Foi ela que me suavizou os traços desta cidade. Levou-me a Venice Beach para sentir a liberdade como apenas existe por aqui.
Tive até a sorte e o privilégio de ver como estas comunidades se integram uma única num espetaculo de basebol. Seguido do fogo de artificio do 4 de julho. Sem dúvida um dia mágico que nunca me vou esquecer. E esta é a verdadeira magia de LA. Não a dos holofotes e estrelas de cinema – perfeita no ecrã mas artificial na realidade. A magia de LA consiste nas suas pessoas. Sonhadoras, combatente e abertas. Que dão um gosto doce a esta terra dura. Ou que te ajudam, como Miranda o fez, a abrir as portas desta cidade.

Um abraço e um beijo do puto viajante,
Stran

Monday, July 23, 2012

Cartas para ti... Kyoto


Car@ Leitor@,

Vim para Kyoto para encontrar o tradicional. O Japão dos templos e das gueishas. Das florestas de bambu e passeios serenos à beira de um canal. Mas encontrei mais. Encontrei Eri. E com ela descobri um equilibrio dificil de igualar, histórias que vou recordar e um pôr de sol que se guarda na alma.
Por esta altura começo a desconfiar que o Japão é preenchido por pessoas que te roubam o folego. É impossível descrever a sensação daqui estar. A primeira palavra que aparece é tranquilidade. Uma que sentimos na nossa alma e que não é feita apenas de paz. É feita de movimento e estimulos. De sorrisos e bom gosto.
No meio disto tudo, percebo que ando há oito meses a viajar. Mais importante, estou quase a terminar a minha experiência asiática. Foi estranho quando percebi isso. Um grande choque. Os últimos tempos foram tão intensos que ainda não tinha tido tempo para ponderar. E fi-lo no meio de outra experiência intensa. É impossível viver o Japão de outra forma.
Mesmo nesta cidade tranquila de Kyoto, a intensidade do Japão sente-se em cada pormenor. Sente-se no metro à hora de ponta quando todos tentam chegar ao seu destino. No comprar duma garrafa de água, pela simpatia humilde do outro lado do balcão. Ou então no olhar sereno de Eri a contemplar um pôr de sol sob esta cidade lindissima.

Um beijo e abraço do puto viajante,
Stran

Sunday, July 22, 2012

Cartas para ti... Tokyo

Car@ Leitor@,

Há muito que não escrevia para ti. Nada melhor que recomeçar aqui, nesta cidade que amei. E Tokyo tem para mim um nome: Keiko. Amiga de uma amiga minha, que se tornou amiga minha também. Mas mais que tudo uma pessoa extrordinária. Não porque voa ou é mais rápida que uma bala. Porque é generosa, simpática e muito interessante. Porque tem a paixão do sonho e decide realiza-lo.
Vi Tokyo pelos seus olhos. Abriu-me as portas desta cidade e deu-me a conhecer tudo de bom que esta cidade tem. Não era uma tarefa fácil. Desde pequeno que imagino vir a Tokyo. Uma cidade que fundia o tradicional com o moderno, com um ritmo que seria impossível de igual. Dizer que tinha as expetativas elevadas é pouco.
E Tokyo foi... muito mais que isso. Poucos sitios me contagiaram como este. Andar pelo meio de das suas ruas é encontrar vários mundos distantes fundidos por um cordel japonês. Podes estar no meio do centro financeiro e encontrar a paz tranquila do espaço verde. Enfrentas a sensação claustrofóbica de atravessar uma estrada em Shybuya ou então delicias-te com uma qualquer comida – e digo qualquer pois não há como errar aqui... tudo é bom!
São muitosos espaços que a cidade te traz. Tudo temperado com uma segurança e paz que apenas encontras aqui. Um dia vou retornar para viver aqui. Esta cidade tem tudo o que o meu espirito de escritor ambiciona: as luzes, os espaços solitários, os jardins, o silêncio e a confusão. Uma cultura poderosa e com pessoas fantásticas e contagiantes.

Um abraço e beijo do puto viajante,
Stran

Thursday, July 19, 2012

Um dia em... Hoi An

Já tens a bicicleta preparada? Optimo. Depois do descanso do outro dia, de certeza que tens força para hoje. Peço desculpa por te trazer a Hoi Han e não te guiar por esta bela cidade. Hoje não vais aos seus templos ou casas históricas. Muito menos vais ao Festival de lua cheia junto ao rio e com as suas velas flutuantes. Deixo isso para explorares ao teu ritmo.
É dia de irmos onde as pernas aguentarem ou a estrada permitir. Começamos de manhã. Por enquanto ainda não está um calor infernal. Vamos a isso. Aos poucos deixamos para trás os hoteis, lojas e ruas desta cidade. O verde começa a compôr a paisagem. Após uns minutos já estamos rodeados dessa cor. Paramos um pouco para admirá-lo. Trata-se do verde dos arrozais. Um paisagem ampla e plana engole-nos. As pessoas, com os seus tradicionais chapeús - e alguns com os seus tradicionais pijamas -, trabalham no campo, numa posição que faz doer só de ver. Pergunto-me como conseguem. A rua não é muito larga e feita de um asfalto que teima em não estar completo. Mas é plano e bom o suficiente para continuarmos.
Gosto do toque aveludado e gentil do ar do Vietname enquanto andamos de bicicleta. Impossível não sorrir enquanto nos apróximamos da primeira vila no caminho. Vivendas perdidas no tempo e um mercado de peixe, cheio de confusão e sabores. Peixe fresco do rio largo que ladeia esta região. Nas suas margens as palmeiras. Sim, por aqui, qualquer recanto parece um paraiso.
Continuamos para outra confusão, a do meio de uma cidade. E quando se trata de uma pequena cidade vietnamita a confusão é... imensa. Altura de seguir o trânsito e fluir como a água. Alguns camiões, muitos carros e tudo o resto é motas e bicicletas. Agradeces as buzinas pois permitem que saibas quem está perto de ti. Tudo aqui parece uma salganhada. Mas uma que flui com a toda tranquilidade. Depois do choque inicial, também tu te enquadras na mesma. É bom saborear este lado do Vietname por dentro. Tudo é um estimulo que te rasga o sorriso. As motos preenchidas com uma criatividade tremenda para transportar mobilias. A “avozinha” em versão miniatura com os dois cestos presos numa vara e o seu chapeu triangular. E sempre que um olhar se cruza com o teu, o sorriso vietnamita que te faz sentir em casa.
Passamos esta confusão e eu tenho de parar. Fiquei sem água. Vamos àquela merceria numa casa vietnamita (construidas na vertical) para nos abastecermos. O melhor é deixar as bicicletas na sombra. Cinco segundos ao sol e passa a ser uma tostadora das tuas partes sensíveis.
“Hi” - gosto de abordar nestas situações em inglês. Percebem de imediato que não sabes falar vietnamita.
“Chao...” -depois começa a tentativa de dizer algo em vietnamita.
Ela sorri do outro lado, um sorriso envergonhado próprio do sudeste asiatico. É sempre uma tarefa complicada - e divertida – a de comprar algo fora dos locais turisticos.
“I want to buy a botlle of water...” ela sorri ainda mais e percebo que não estou a ir a lado nenhum. Sorrio em companhia e porque não há como não sorrir com o seu ar gentil
“ohhh...” olho em volta para ver se encontro uma garrafa. E com o alvo escolhido aponto para o que quero...
“Ohhh...” e continua a dizer algo a sorrir e a dizer algo que não entendo. Pergunto-lhe com gestos quanto é. Responde-me em vietnamita. Altura de eu sorrir...
“Ohhh no vietnamese, no speak...” e começo a contagem com os dedos. Quando chega ao valor ela diz algo, sem parar de sorrir. Troca feita e depeço-me com um sorridente e envergonhado “Cam On”. Por aqui é sempre assim, tudo se faz entre sorrisos.
Abastecidos podemos continuar. Dizemos adeus à senhora que se interroga o que fazemos ali. Agora é altura de encontrar um outro Vietname, o que está em construção. A rua – talvez uma via rápida – está a ser feita. A atestar isso, as grandes máquinas e os homens de capacete branco com que nos cruzamos. A sensação, ao atravessr o seu ruído e poeira, é a de um país em rápido desenvolvimento. Daqui a uns tempos, esta estrada será bem diferente. Por agora, podemos gozar o intermédio e acompanhar a adrenalina do crescimento enquanto continuamos a pedalar.
E sem dar conta é altura de regressar. Afinal o nosso fim não vem com o cansaço (que já se sente) mas com uma portagem que não é para nós. Estás no Vietname e fazer uma inversão de marcha não é assim tão simples. Para mais junto à entrada da autoestrada onde o trânsito se aglomera mas não pára. A rua é suficiente larga para permitir a co-existência de motas, carros e camiões em ambos os sentidos.
Altura de respirar fundo, ganhar coragem e fazê-lo à maneira local. Igual à do Cambodja. Vamos lentamente até ao meio, enquanto por nós as motas fazem tangentes e os carros apitam. Continuamos o nosso ritmo até o atingirmos. A parte fácil está feita. Agora, e sem parar, é altura de enfrentar o trânsito em sentido contrário. Deste lado, parece um monstro multifacetado que te quer engolir. Todo o teu corpo te diz que vais ter um acidente mas tens de o ignorar... bem... quem estou a enganar... tens é de ter muita fé. Começamos a estar em contra corrente. Primeiro é entrar quando existem muitas motas. Estas têm todo o espaço para se desviar, depois... atenção vem aí um carro... temos de ir com mais velocidade para a margem... ele tem de passar por nós e as motas que estão ao nosso lado... quase... quase... ufa... já está! Agora só mais um bocado... umas motas, umas bicicletas e... tarefa concluída!!!
Podemos respirar outra vez e esperar que o nosso corpo pare de termer. O melhor mesmo é descansarmos num café que vi lá atrás. Tinha um belo lago com lotus e tranquilizar o nosso corpo ao sabor de um café suda...

Wednesday, July 18, 2012

Um dia em... Nha Trang

E depois de uma viagem intensa é altura de relaxar um pouco. “Às 5 da manhã?!?” perguntas-me tu. Bem sei que é uma hora imprópria, mas vale o esforço. O lugar de encontro é o mesmo de sempre: à porta do hotel. Espero que a ruela que passaste não te assuste. Nem a porta de garagem que é a entrada do hotel. Garanto-te que a zona é pacífica – como em todo Vietnam - e o quarto é um dos melhores que já tive. Tive direito a duas camas, muito espaço, televisão e casa-de-banho com água quente. Um verdadeiro luxo neste tipo de viagens.
Mas não foi para te mostrar o hotel que te fiz acordar tão cedo. Saiemos desta ruela, cruzemos a marginal e chegamos ao ponto que quero estar: a praia de Nha Trang. Começas a perceber o porquê desta hora. À tua frente tens uma espetacular paisagem. Em breve se tornará mágica. As ilhas, o mar calmo e o sabor a maresia são o palco para o artista principal. Esse desperta um pouco mais tarde.
Por agora, os únicos despertos são os vietnamitas que já abordam a praia. Uns para começar mais um dia de lazer, outros que passam por nós no seu jogging matinal. Há quem tenha energia para fazer um pequeno jogo de futebol. Eu prefiro ficar sentado num banco à beira-mar e deixar o espetaculo começar.
E tem início com uma mudança de cor. O roseado serpenteia o céu, e toca ao de leve o mar calmo à nossa frente. Lentamente o Sol desperta. Com ele, o laranja domina a paisagem, competindo com o verde das ilhas. O som das ondas transportam-nos para um lugar intemporal. Podia ser o terminar de um dia ou começar de outro. Degustamos este paraíso lentamente. Com uma alma que rejuvenesce a cada segundo. Impossível não sorrir.
Lentamente, ao ritmo de um sol que desperta, voltamos ao nosso banco. Olhamos em volta e a cidade também acorda. Altura de passear um pouco. O melhor é seguir a larga marginal que acompanha o mar. No passeio, centenas de pessoas praticam os seus desportos matinais. Fazem alongamentos na areia, flexões no jardim que medeia a praia e a marginal ou então jogam bagdminton. O que eu mais gosto de ver é o tai chi colectivo. Uma dança bem coreagrafada e que transmite uma paz que combina com este espaço.
Seguimos a avenida até ao seu final. Passamos por muito resorts. Afinal estamos em Nha Trang, para todos os efeitos uma megapolis turistica. Mas quando passamos esta avenida, na companhia do mar, o cenário muda e regressamos a um Vietnam mais tipico, com casas baixas, bicicletas e motas na rua e um sitio para comer em cada... espaço disponível. É sempre hora para comer, e com o estomago a apertar eu faço o mesmo.
Queres alguma coisa? No meu caso vou comer uma baguete com ovos mexidos (um verdadeiro vício) com um café suda a acompanhar – um vicio ainda maior. Este ultimo é um simbolo deste país. Café com leite condensado e gelo. A bebida perfeita para um calor que às 7 da manhã já se sente.
Os vietnamitas olham curiosos e quando os nossos olhares se cruzam, sorriem. Este é o país dos sorrisos. Encontra-os em todo lado. É uma sensação extraordinária. O pequeno almoço está tomado, e quero-te levar a um sitio que vi noutro dia. É só seguir esta rua até ao final. Depois, quando ela sobe para a montanha em direcção ao ferry, entramos numa daquelas que à primeira vista não o deveriamos fazer. Uma ruela que vai apertando até apenas ter espaço para nós.
Por aqui as casas parecem de férias. As pessoas parecem gozar um descanso enquanto saboreiam a comida e nos estranham. Sorriem com o nosso sorriso e deixam-nos partilhar esta rua longe dos roteiros turisticos. Lá no fim encontramos o mar uma vez mais. Um veludo cintilante com o reflexo do sol. A beira do mar, as casas de madeira dos pescadores. Uma mulher toma o seu banho enquanto alguns navegam entre a terra e os barcos de pesca nos cestos aquáticos. O toque salgado do vento tempera a paisagem e é altura de nos deixarmos perder nesta paisagem...

Tuesday, July 17, 2012

Um dia em... Phnom Phen

Gostaste de Angkor Wat? Magnífico, não é? Hoje quero-te levar a um sítio bem diferente. Fica junto à capital, Phnom Phen. A dureza do dia de hoje está nas emoções. Anda daí, que o condutor de tuc-tuc já chegou. Está aqui à beira do hotel. Entremos então. Uma caixa metálica multicolorida. O toldo é verde escuro, as guardas são metálicas e a caixa vermelha. Tudo puxado por uma moto. Queres ir no banco da frente (de costas para o trânsito) ou no de trás? O detras é sempre melhor e podemos ver melhor o que nos rodeia.
Arrancamos pela estrada da Guesthouse. Por aqui só encontras mais guesthouses. Um pequeno gueto. Chegamos a uma ampla avenida. Á nossa volta o som do... tuc-tuc. O bruuuum tipico quase envolve tudo, mas ainda deixa passar um pouco da vida à nossa volta. E por aqui temos apenas mais trânsito. Confuso e belo. Uma sinfonia desarranjada. Passamos pelo monumento de democracia de estilo khmeriano (isto é, como uma das torres de angkor wat). E em breve o nosso condutor leva-nos para uma rua paralela na esperança de escaparmos ao trânsito.
Esta é zona de vivendas, iguais à que estamos habituados, talvez fruto do passado colonial francês. A grande diferença são as grandes e o arame farpado que as envolve. Sinal que por detrás da imagem pacifica existe uma ameaça de violência. Algo que não é de estranhar num país que viu os Khmer Rouge serem derrotados apenas em 1998.
Conforme nos afastamos do centro, o cimento dá lugar à madeira. Consegues ver a pobreza mais perto. E é muita. Não estranhes que enquanto o condutor tenta cortar o trânsito indo para a berma elameada, passem por ti três crianças de gancho na mão a procurar no lixo pedaços metálicos. Elas ficam curiosas a olhar para nós. Eu aceno e uma delas sorri de forma sincera. Depois seguem a sua vida e nós a nossa.
A confusão continua. Os carros acumulam-se e as motas tentam encontrar uma escapatória. Tudo motivado por um cruzamento orientado pela policia. Conseguimos escapar e entramos na reta final. A cidade fica para trás e à nossa volta o espaço é idilico. São terrenos alagados que refletem o sol. Gosto particularmente das flores de lotus que dão um tom mágico. Viramos para chegar ao destino final.
O tuc-tuc abranda até parar à porta do complexo. Agora peço-te para preparares o teu estomago. Não é uma visita fácil. Daqui parece um bonito espaço verde com uma stupa no meio. Mas esta serenidade esconde a violência enterrada. Passamos pela bilheteira onde, depois de pagarmos o bilhete, indicam-nos para ir buscar o audio-guide. Essencial numa visita como esta.
Iniciamos a visita. Se ninguém nos informasse poderiamos estar num qualquer jardim. O memorial esconde o horror dentro dele. Um pouco como toda esta paisagem. Vamos pela direita. Um placar indica-nos que era aqui o ponto de paragem da camioneta que transportava a “mercadoria”: seres humanos a caminho da sua morte. À sua frente ficava o gabinete. Hoje é apenas o espaço e a ausência.
E talvez seja esta a palavra que mais se adequa a este espaço. Todo ele foi um espaço de ausência, de humanidade e hoje de vestigios. Os mais marcantes estão à tua esquerda. Mais uma ausência, neste caso de terra. Este espaço é cheio de crateras. Valas comuns onde enterravam os corpos inanimados dos prisioneiros. Ainda hoje, em altura de chuvas intensas, pedaços de ossos, dentes e roupas aparecem à superfície. Uma recordação sombria dos (poucos) limites da humanidade.
Enquanto assimilamos esta loucura, ultrapassamos as valas comuns. Aqui fica um lago. Também depositário de inúmeros corpos. A sua calma e beleza contrasta com as palavras que ouvimos no nosso audio guide. Histórias de horror, violência e loucura. Sentemo-nos um pouco num dos bancos de pedra por aqui existem. Altura de recuperar o folêgo e ganhar coragem para o resto da visita.
...
Podemos seguir? Ok. De regresso ao verde das valas comuns, viramos à direita. Neste espaço a memória é mais fisica e mais brutal. Repara naquela árvore. Sim, aquela que tem as pulseiras no seu tronco. Ouve agora as palavras do nosso guia. Ele conta-nos que ali - naquele tronco que podes tocar - era o sitio onde os guarda matavam as crianças e bébés. Pegavam pelos tornozelos e num gesto rápido... pum... esmagavam os crânios contra o tronco. De repente todo o lugar torna-se mais sinistro. O verde e a paz é subsitituido por imagens de vermelho e gritos. Sons secos de brutalidade chegam aos ouvidos da tua imaginação.
Depois de recuperar um pouco o “agora”, seguimos para o próximo marco. Uma outra árvore. Esta era o suporte de altifalantes. Um ultimo arrepio é nos fornecido pelo audio guide. Ele relembra-nos que desta árvore eram emitidos os ultimos sons que muitas pessoas ouviram. Sons de músicas revolucionárias. Ao som desta música, o nosso coração estremece e o nosso corpo pede para fugir... para regressar à nossa realidade, à nossa segurança. Uma que damos por garantida e que está a um passo de a perdermos...

Monday, July 16, 2012

Um dia em... Siem Reap

Bom dia! Hoje vai ser um pouco diferente. Encontro-te junto ao hotel. E hoje trago tudo comigo, pelo que não preciso de voltar ao quarto. embora este é o melhor que eu já tive desde que viajo. A cama é ampla. Casa de banho e agua quente incluídos. Ah e televisão no quarto. Sim um luxo. A ventoinha é mais que suficiente e gosto da decoração, dois quadros com imagens de arte khemriana. Ok, o preço acompanha o luxo e tenho de pagar 7 USD por noite. Confus@ por falar em dólares? Pois, por aqui tudo se paga nesta moeda. Se fores aos multibancos serão estes que sairão.
Encontro-te na recepção do hotel. Se demorar um pouco podes te sentar num dos bancos de madeira, que existem à volta da mesa com um modelo de angkor wat a decorar. Se os achares poucos confortáveis, tens as cadeiras de vime com almofadas. Ah? Já estás aqui. Boa. Vamos seguir e comer alguma coisa. Como estou numa de turista podemos ir para o restaurante do hotel. Fica ali, para lá daquelas escadas que partem da recepção e nos guiam a um outro edifício.
Podemo-nos sentar nesta mesa. O restaurante está vazio. Normal a esta hora. Eu vou encomendar um Luk Luck, um prato cambodjano. Muito parecido ao bife de cebolada, gosto do seu sabor. Ah, recomendo que comas algo energético. Hoje é um dia de exercício. Vou chamar o empregado. Eles são mesmo simpáticos, sempre a sorrir. Mas nesta altura podes morrer de fome se ficares à espera que eles venham ter contigo. Já escolheste? Optimo. O empregado aponta o pedido e eu assino o papel. Por aqui o pagamento é no final quando fizer o check out. Não me posso esquecer de adicionar 3 USD à minha conta.
A fome já apertava pelo que não demoro muito tempo. Vamos para a rua. É altura de irmos à procura de um sitio para alugar uma bicicleta. Yep... isso mesmo... hoje vamos de bicicleta. Procuremos na rua pricipal, já aqui ao lado. Esta rua segue até à rotunda e daí segue a dita.
Não ligues à confusão desta rua. É bem própria deste país e tudo acaba por fluir. Podes pensar que é uma massa confusa, mas as pessoas de bicicleta, moto, carro ou a pé seguem um ritmo melodioso. E sim, prepara-te que daqui pouco vais entrar nessa confusão de bicicleta. Para já sigamos pela berma da estrada.
Podes ver o comerciante com o seu carrinho de vendas. Este serve crepes. Disponíveis até que a chuva venha. Atrás encontramos o supermercado – identico a todos os outros - e com um pouco de todos os produtos importados. À sua frente um mini-mercado de rua com comidas. Aqui podes comprar um jantar embalado em pequenos sacos de plastico, ou no caso do churrasco em pauzinhos de espetada.
Mais à frente, e porque estamos numa rua turistica, tens inumeras guesthouses, restaurantes e “postos turisticos” que não são mais que agências de turismo e internet café. A nossa atenção vai para estas, pois normalmente podemos alugar lá bicicletas.
Ok, vamos então à primeira.
“Hello”
“Aaallooo...” com um generoso sorriso
“Do you rent bikes?”
“Yes... 3 UDS”
“What?! So much...”
“Cheap... cheap... New bike...”
“Oh... No... too expensive... I was looking for less... just an old one...”
“Oh... No problem...”
Altura de regressar à estrada. Do outro lado vejo uma loja. Vamos atravessar... não te assustes. Existe muito movimento, mas é fácil...
Os carros são os menos flexíveis. Ou deixas passar ou corres antes de chegarem. As motas e bicicletas são mais flexíveis. Segues o teu ritmo que se desviarão. Ah e não hesites. Ao mesmo tempo que tu decides, todos os outros fazem o mesmo. Pensa nisto como uma dança colectiva espontânea. Se todos seguirem o ritmo, a coreografia é feita sem falhas. Ok, agarra a minha mão e vamos a isto. Carro – pausa – Espaço entre Carro – um corridinho rápido – Depois de Carro – um slow para olhar em volta – Motas e Bicicletas – uma valsa para chegarmos ao outro lado. E já está! Nem sentes a confusão à tua volta.
Altura de nova negociação. O mesmo discurso, a mesma conclusão. Demasiado caro. O preço que tenho em mente é 1 USD. Por 3 USD podemos juntar mais um pouco e ir de Tuc-tuc. Não é a mesma coisa, mas é mais confortável. Olha... vejo ali mais uma loja. Perto da rotunda. Parece ser mesmo o que queria.
Vamos atravessar uma vez mais... ok... agora já consegues por ti. Vês?... é fácil. Vamos descobrir quanto custa. A rapariga da loja sorri ao chegarmos
“Aaalllloooo...”
“Hello... I want to rent a bike? How much?”
“One dolar...”
“perfect”
Não consigo guardar o entusiasmo. Já não acreditava conseguir. Vamos escolher a bicicleta. Para mim é fácil. Tem de ter um guiador direito e apenas existe uma. Espero que consigas guiar com os outros. Consegues? Optimo. Vamos até Angkor Wat.
“How to Angkor Wat?”
“Straight ahead... Main road...” diz gentilmente e com um sorriso.
“Thank you... Aw Kumm” Ela sorri ainda mais com o som do meu mal entoado “Obrigado”.
Agora a aventura começa a sério. Já não ando de bicicleta há muito, e é a primeira vez que o faço no meio deste trânsito. Temos de atravessar a estrada, que a nossa direcção está do outro lado. Bem se calhar é melhor fazer à maneira local. Começamos em sentido contrário, e lentamente vamos nos aproximando do nosso lado. Uma vez mais sem hesitações... As motos assustam, mas não vão chocar contigo. Mais um bocadinho... e já estamos na direcção correta. Agora é um instante até chegarmos à berma. O local das bicicletas. Temos a companhia de outros por isso é só seguir o passo.
E agora o segundo obstáculo. Um cruzamento. Tens de calcular bem a tua entrada em apenas alguns segundos. O melhor é juntarmo-nos a outros ciclistas. Percebes agora a técnica dos bandos e fazemos o mesmo. Ao ver tantos ciclistas, as motas abrandam o suficiente para deixar passar. E nós aproveitamos. Se hesitarmos eles ficarão à nossa frente e é a nossa altura de parar. Pronto... obstáculo ultrapassado. Com as regras em mente já podemos aproveitar e admirar o que se passa à nossa volta.
A confusão tipica de backpackers area fica para trás. Chegamos aos hoteis de 5 estrelas. Gigantescas mansões que absorvem toda a vida à sua volta. Por aqui não existe muito comércio de rua. Apenas tuc-tuc's parados que temos de evitar... Sigamos ao nosso ritmos, um que as minhas pernas aguentem.
Mais movimento à nossa frente. Desta vez por causa do Hospital e das duas lombas gigantescas antes e depois da sua entrada. Entre pessoas que visitam - ou que precisam de atendimento - e pessoas que saem, a confusão está instalada. As várias barracas de comida intensificam o caos. Abrandamos o ritmo para cortar a confusão. Pelo meio, as crianças, em roupas enegrecidas, sempre curiosas, olham para nós com um sorriso e um aceno. Eu tento fazer o mesmo, mas esse momento de distracção quase me faz embater na moto à minha frente. Raios, esta estrada não perdoa nada...
Continuamos até não ter mais cidade. Apenas a planicie eterna do Cambodja e o verde a acompanha-la. Aqui e ali conseguimos encontrar uma casa de madeira, elevada acima do solo por estacas e com telhado de zinco. Uma imagem icónica desta região. Os seus habitantes ignoram a nossa presença e seguem a sua vida. As suas calças sujas e rasgadasdão um indício da sua pobreza. Nos seus rostos vemos Cambodja. A cara de uma simpatia e uma simplicidade de viver.
Estamos quase a chegar. Antes temos de parar e mostrar os nossos bilhetes. À nossa frente a vista é mais ampla e daqui já consigo ver a linha de água que envolve o complexo de Angkor Wat. Lugar idilico para construir o templo. Viramos à esquerda e estamos na última recta para a entrada. As muralhas do templo aparecem por detrás da vegetação.
Ao chegarmos, o bando de turistas preenche toda a entrada. A ponte que atravessa a linha de água é um corre-corre. Deixamos as nossas bicicletas à esquerda, num terreiro que serve de parque às motos, tuc-tuc's e bus que todos os dias trazem centenas de pessoas para este lugar de sonho. Acorrentamos a bicicleta e atravessamos a estrada.

À entrada as crianças rodeiam-nos a tentar vender algo ou pedir dinheiro. Algumas trazem bébés ao colo. Sorriem com um ar de criança, mas as suas vidas estão no limbo entre o corpo de criança e a preocupação de adulto para fazer algum dinheiro. Por mais que custe, não compro nada. Sorrio na volta e troco algumas palavras. Subimos as escadas para a ponte. O inicio da visita. E agora deixo-te para veres por ti este local de sonho por ti. Eu fico aqui a aguardar por ti e quem sabe levar-te para um outro pouso...

Sunday, July 15, 2012

Interlúdio

Já passou muito tempo... demasiado. Já terminei o sudeste asiático, passei pelo Japão e iniciei a minha aventura americana. Escrevo de Medellin e peço desculpa por esta pausa sem aviso. Às vezes é assim. Não controlamos a viagem e o melhor é deixar-nos ir.

Passado este tempo, percebo que precisava de uma pausa. Como numa série de televisão, a primeira temporada terminou com o vídeo. Era altura de descansar e deixar algumas ideias fluirem.
O tempo de pausa terminou. Mas, antes do arranque da segunda temporada, decidi fazer um interlúdio. Duas semanas que servem para culmatar o iato que vai do Cambodja aos USA. Em vez do formato habitual, nas próximas duas semanas serão publicados uma série consecutiva de artigos “um dia em...” e “cartas para ti...”. Uma forma de vos trazer nesta saga que me levou até à América Latina.
Como sempre espero que gostem e aproveitem o tempo que por aqui passam...