Thursday, July 19, 2012

Um dia em... Hoi An

Já tens a bicicleta preparada? Optimo. Depois do descanso do outro dia, de certeza que tens força para hoje. Peço desculpa por te trazer a Hoi Han e não te guiar por esta bela cidade. Hoje não vais aos seus templos ou casas históricas. Muito menos vais ao Festival de lua cheia junto ao rio e com as suas velas flutuantes. Deixo isso para explorares ao teu ritmo.
É dia de irmos onde as pernas aguentarem ou a estrada permitir. Começamos de manhã. Por enquanto ainda não está um calor infernal. Vamos a isso. Aos poucos deixamos para trás os hoteis, lojas e ruas desta cidade. O verde começa a compôr a paisagem. Após uns minutos já estamos rodeados dessa cor. Paramos um pouco para admirá-lo. Trata-se do verde dos arrozais. Um paisagem ampla e plana engole-nos. As pessoas, com os seus tradicionais chapeús - e alguns com os seus tradicionais pijamas -, trabalham no campo, numa posição que faz doer só de ver. Pergunto-me como conseguem. A rua não é muito larga e feita de um asfalto que teima em não estar completo. Mas é plano e bom o suficiente para continuarmos.
Gosto do toque aveludado e gentil do ar do Vietname enquanto andamos de bicicleta. Impossível não sorrir enquanto nos apróximamos da primeira vila no caminho. Vivendas perdidas no tempo e um mercado de peixe, cheio de confusão e sabores. Peixe fresco do rio largo que ladeia esta região. Nas suas margens as palmeiras. Sim, por aqui, qualquer recanto parece um paraiso.
Continuamos para outra confusão, a do meio de uma cidade. E quando se trata de uma pequena cidade vietnamita a confusão é... imensa. Altura de seguir o trânsito e fluir como a água. Alguns camiões, muitos carros e tudo o resto é motas e bicicletas. Agradeces as buzinas pois permitem que saibas quem está perto de ti. Tudo aqui parece uma salganhada. Mas uma que flui com a toda tranquilidade. Depois do choque inicial, também tu te enquadras na mesma. É bom saborear este lado do Vietname por dentro. Tudo é um estimulo que te rasga o sorriso. As motos preenchidas com uma criatividade tremenda para transportar mobilias. A “avozinha” em versão miniatura com os dois cestos presos numa vara e o seu chapeu triangular. E sempre que um olhar se cruza com o teu, o sorriso vietnamita que te faz sentir em casa.
Passamos esta confusão e eu tenho de parar. Fiquei sem água. Vamos àquela merceria numa casa vietnamita (construidas na vertical) para nos abastecermos. O melhor é deixar as bicicletas na sombra. Cinco segundos ao sol e passa a ser uma tostadora das tuas partes sensíveis.
“Hi” - gosto de abordar nestas situações em inglês. Percebem de imediato que não sabes falar vietnamita.
“Chao...” -depois começa a tentativa de dizer algo em vietnamita.
Ela sorri do outro lado, um sorriso envergonhado próprio do sudeste asiatico. É sempre uma tarefa complicada - e divertida – a de comprar algo fora dos locais turisticos.
“I want to buy a botlle of water...” ela sorri ainda mais e percebo que não estou a ir a lado nenhum. Sorrio em companhia e porque não há como não sorrir com o seu ar gentil
“ohhh...” olho em volta para ver se encontro uma garrafa. E com o alvo escolhido aponto para o que quero...
“Ohhh...” e continua a dizer algo a sorrir e a dizer algo que não entendo. Pergunto-lhe com gestos quanto é. Responde-me em vietnamita. Altura de eu sorrir...
“Ohhh no vietnamese, no speak...” e começo a contagem com os dedos. Quando chega ao valor ela diz algo, sem parar de sorrir. Troca feita e depeço-me com um sorridente e envergonhado “Cam On”. Por aqui é sempre assim, tudo se faz entre sorrisos.
Abastecidos podemos continuar. Dizemos adeus à senhora que se interroga o que fazemos ali. Agora é altura de encontrar um outro Vietname, o que está em construção. A rua – talvez uma via rápida – está a ser feita. A atestar isso, as grandes máquinas e os homens de capacete branco com que nos cruzamos. A sensação, ao atravessr o seu ruído e poeira, é a de um país em rápido desenvolvimento. Daqui a uns tempos, esta estrada será bem diferente. Por agora, podemos gozar o intermédio e acompanhar a adrenalina do crescimento enquanto continuamos a pedalar.
E sem dar conta é altura de regressar. Afinal o nosso fim não vem com o cansaço (que já se sente) mas com uma portagem que não é para nós. Estás no Vietname e fazer uma inversão de marcha não é assim tão simples. Para mais junto à entrada da autoestrada onde o trânsito se aglomera mas não pára. A rua é suficiente larga para permitir a co-existência de motas, carros e camiões em ambos os sentidos.
Altura de respirar fundo, ganhar coragem e fazê-lo à maneira local. Igual à do Cambodja. Vamos lentamente até ao meio, enquanto por nós as motas fazem tangentes e os carros apitam. Continuamos o nosso ritmo até o atingirmos. A parte fácil está feita. Agora, e sem parar, é altura de enfrentar o trânsito em sentido contrário. Deste lado, parece um monstro multifacetado que te quer engolir. Todo o teu corpo te diz que vais ter um acidente mas tens de o ignorar... bem... quem estou a enganar... tens é de ter muita fé. Começamos a estar em contra corrente. Primeiro é entrar quando existem muitas motas. Estas têm todo o espaço para se desviar, depois... atenção vem aí um carro... temos de ir com mais velocidade para a margem... ele tem de passar por nós e as motas que estão ao nosso lado... quase... quase... ufa... já está! Agora só mais um bocado... umas motas, umas bicicletas e... tarefa concluída!!!
Podemos respirar outra vez e esperar que o nosso corpo pare de termer. O melhor mesmo é descansarmos num café que vi lá atrás. Tinha um belo lago com lotus e tranquilizar o nosso corpo ao sabor de um café suda...

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