Já tens a bicicleta preparada? Optimo.
Depois do descanso do outro dia, de certeza que tens força para
hoje. Peço desculpa por te trazer a Hoi Han e não te guiar por esta
bela cidade. Hoje não vais aos seus templos ou casas históricas.
Muito menos vais ao Festival de lua cheia junto ao rio e com as suas
velas flutuantes. Deixo isso para explorares ao teu ritmo.
É dia de irmos onde as pernas
aguentarem ou a estrada permitir. Começamos de manhã. Por enquanto
ainda não está um calor infernal. Vamos a isso. Aos poucos deixamos
para trás os hoteis, lojas e ruas desta cidade. O verde começa a
compôr a paisagem. Após uns minutos já estamos rodeados dessa cor.
Paramos um pouco para admirá-lo. Trata-se do verde dos arrozais. Um
paisagem ampla e plana engole-nos. As pessoas, com os seus
tradicionais chapeús - e alguns com os seus tradicionais pijamas -,
trabalham no campo, numa posição que faz doer só de ver.
Pergunto-me como conseguem. A rua não é muito larga e feita de um
asfalto que teima em não estar completo. Mas é plano e bom o
suficiente para continuarmos.
Gosto do toque aveludado e gentil do ar
do Vietname enquanto andamos de bicicleta. Impossível não sorrir
enquanto nos apróximamos da primeira vila no caminho. Vivendas
perdidas no tempo e um mercado de peixe, cheio de confusão e
sabores. Peixe fresco do rio largo que ladeia esta região. Nas suas
margens as palmeiras. Sim, por aqui, qualquer recanto parece um
paraiso.
Continuamos para outra confusão, a do
meio de uma cidade. E quando se trata de uma pequena cidade
vietnamita a confusão é... imensa. Altura de seguir o trânsito e
fluir como a água. Alguns camiões, muitos carros e tudo o resto é
motas e bicicletas. Agradeces as buzinas pois permitem que saibas
quem está perto de ti. Tudo aqui parece uma salganhada. Mas uma que
flui com a toda tranquilidade. Depois do choque inicial, também tu
te enquadras na mesma. É bom saborear este lado do Vietname por
dentro. Tudo é um estimulo que te rasga o sorriso. As motos
preenchidas com uma criatividade tremenda para transportar mobilias.
A “avozinha” em versão miniatura com os dois cestos presos numa
vara e o seu chapeu triangular. E sempre que um olhar se cruza com o
teu, o sorriso vietnamita que te faz sentir em casa.
Passamos esta confusão e eu tenho de
parar. Fiquei sem água. Vamos àquela merceria numa casa vietnamita
(construidas na vertical) para nos abastecermos. O melhor é deixar
as bicicletas na sombra. Cinco segundos ao sol e passa a ser uma
tostadora das tuas partes sensíveis.
“Hi” - gosto de abordar nestas
situações em inglês. Percebem de imediato que não sabes falar
vietnamita.
“Chao...” -depois começa a
tentativa de dizer algo em vietnamita.
Ela sorri do outro lado, um sorriso
envergonhado próprio do sudeste asiatico. É sempre uma tarefa
complicada - e divertida – a de comprar algo fora dos locais
turisticos.
“I want to buy a botlle of water...”
ela sorri ainda mais e percebo que não estou a ir a lado nenhum.
Sorrio em companhia e porque não há como não sorrir com o seu ar
gentil
“ohhh...” olho em volta para ver se
encontro uma garrafa. E com o alvo escolhido aponto para o que
quero...
“Ohhh...” e continua a dizer algo a
sorrir e a dizer algo que não entendo. Pergunto-lhe com gestos
quanto é. Responde-me em vietnamita. Altura de eu sorrir...
“Ohhh no vietnamese, no speak...” e
começo a contagem com os dedos. Quando chega ao valor ela diz algo,
sem parar de sorrir. Troca feita e depeço-me com um sorridente e
envergonhado “Cam On”. Por aqui é sempre assim, tudo se faz
entre sorrisos.
Abastecidos podemos continuar. Dizemos
adeus à senhora que se interroga o que fazemos ali. Agora é altura
de encontrar um outro Vietname, o que está em construção. A rua –
talvez uma via rápida – está a ser feita. A atestar isso, as
grandes máquinas e os homens de capacete branco com que nos
cruzamos. A sensação, ao atravessr o seu ruído e poeira, é a de
um país em rápido desenvolvimento. Daqui a uns tempos, esta estrada
será bem diferente. Por agora, podemos gozar o intermédio e
acompanhar a adrenalina do crescimento enquanto continuamos a
pedalar.
E sem dar conta é altura de regressar.
Afinal o nosso fim não vem com o cansaço (que já se sente) mas com
uma portagem que não é para nós. Estás no Vietname e fazer uma
inversão de marcha não é assim tão simples. Para mais junto à
entrada da autoestrada onde o trânsito se aglomera mas não pára. A
rua é suficiente larga para permitir a co-existência de motas,
carros e camiões em ambos os sentidos.
Altura de respirar fundo, ganhar
coragem e fazê-lo à maneira local. Igual à do Cambodja. Vamos
lentamente até ao meio, enquanto por nós as motas fazem tangentes e
os carros apitam. Continuamos o nosso ritmo até o atingirmos. A
parte fácil está feita. Agora, e sem parar, é altura de enfrentar
o trânsito em sentido contrário. Deste lado, parece um monstro
multifacetado que te quer engolir. Todo o teu corpo te diz que vais
ter um acidente mas tens de o ignorar... bem... quem estou a
enganar... tens é de ter muita fé. Começamos a estar em contra
corrente. Primeiro é entrar quando existem muitas motas. Estas têm
todo o espaço para se desviar, depois... atenção vem aí um
carro... temos de ir com mais velocidade para a margem... ele tem de
passar por nós e as motas que estão ao nosso lado... quase...
quase... ufa... já está! Agora só mais um bocado... umas motas,
umas bicicletas e... tarefa concluída!!!
Podemos respirar outra vez e esperar
que o nosso corpo pare de termer. O melhor mesmo é descansarmos num
café que vi lá atrás. Tinha um belo lago com lotus e tranquilizar
o nosso corpo ao sabor de um café suda...
No comments:
Post a Comment