Hesse sempre aparece na altura certa. Foi assim na India. Encontrei-o
numa pequena livraria depois de uma viagem espiritual. Foi assim em Colombia. Trazido
pela voz de uma pessoa muito especial num momento que a minha vida se tornou
mágica. As poucas palavras que ela utilizou para descrever este livro agarrou-me
de imediato.
Demorou uns dias até que me guiasse, pelas ruas do centro de
Bogota, ao livro. Estava finalmente nas minhas maos. O nome – El Lobo Estepário
– e as primeiras palavras assustaram-me. Afinal qualquer animal desconfia
quando se olha a um espelho.
Assim repousou durante uns tempo na mala. Sempre presente e
alimentando o meu receio. Ainda nao era altura certa. Mas quando o meu espirito
repousou um pouco, era a altura de o ler.
Uma vez mais a mesma sensaçao. Uma familiariedade estranha. Um
pouco de mim viveu em Hesse e um pouco dele vive em mim. A mesma natureza sem a
mesma vida. Olhamo-nos como dois lobos esteparios o fazem. Estranhos entre si.
Parceiros na mirada.
Como no Sidartha, somos apenas semelhantes. Ler este livro é
como ver um pouco do meu passado. Nao que tenha morto o meu lobo. Ele está bem
vivo dentro de mim. Tao vivo como todos os outros eus. Mas nesse sábado,
enquanto o sol amanhecia e o eu lia as ultimas palavras, percebi o quanto mudei,
mantendo a minha natureza. Algo profundo cambiou dentro de mim. Um processo sem
fim dentro de mim.
Foi com um sorriso que vi Hesse desconstruir toda a
realidade à sua volta. Tornando a ficçao do seu livro mais real que a vida que
muito de nós encenamos…
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