NOTA INICIAL: Por motivos que explicarei mais abaixo, perdi
todos os meus artigos sobre a Colombia. De forma a nao demorar ainda mais tempo
resolvi este breve resumo da minha aventura colombiana… Ah, e peço desculpa pela falta de acentos em
algunas palabras, mas ainda me estou a habituar a um teclado espanhol.
Cheguei com sons de tambor. Nao eram para mim, mas sentí-os
dessa forma. Uma festa que me abria o coraçao a este país. O meu corpo sentia a
latinidade em cada pormenor. A ansiedade era grande. Afinal todos conhecem a
fama desta terra, mas poucos conhecem a sua realidade. Eu nao era diferente.
Para me receber estava Medellin e nela Alejandro, com as
portas abertas do seu hostel e do seu coraçao. Esta cidade é mais conhecida por
um dos seus antigos habitantes: Pablo Escobar. Uma figura incontornável nesta
cidade, mas uma que a energía e força dos seus habitantes conseguiu ultrapasar.
Hoje é uma cidade “hermosa” que nos presenteia com arte, beleza e muita
alegría.
No início o receio. Nao sou imune a famas (mesmo que sem
sentido) e sempre que entro num “mundo” diferente faço-o devagar. Demorei a
entrar no mundo de Medellin. Mas “@s gord@s” de Botero romperam o meu entrave
inicial e a partir daí estava aberto para apreciar as belas praças, o parque (e
atençao que por aquí isto significa estar no meio de uma selva imensa apenas 10
minutos depois de sair de Metrocable da cidade) e todos os pormenores
encatadores desta cidade.

Santo Domingo foi o meu highlight. Um dos bairros mais
perigosos, da cidade mais perigosa, é hoje uma atraçao turística. Tudo em menos
de uma geraçao. Nao sei como conseguiram, mas foi um verdadeiro milagre. Algo
que ensina-nos da força e capacidade deste país. Senti-me esmagado enquanto
apreciava a espetacular paisagem na varanda da Biblioteca Espanhola. Os laranjas
das casas descem pelas encostas verdes que protegem este pequeno paraíso.
Com esta amostra, parti ansioso para Cartagena. Queria
conhecer mais deste país.. E por pouco nao perdia a oportunidade de conhece-la.
O meu plano original era apenas ir a Santa Marta para fazer um trekking e
Bogotá. Depois partiria para o resto da América Latina. Mas a expressao de
Alejandro ao falar de Cartagena fez-me reformular os meus planos. A primeira de
muitas.

E Cartagena deu-me a conhecer o amarelo. O das suas paredes
e calor. Um que envolve a simpatía e os seus habitantes. Cartagena é bela e
hipnotizante. Quer seja pela beleza do
seu centro histórico colonial, quer pela oportunidade de estar no meio do
Caribe quando vamos a Isla del Rosario.
E foi no meio do Caribe que me pacifiquei uma vez mais. Passou mais duma
década desde que tinha mergulhado nas suas águas. De lá para cá um mundo novo
dentro de mim. Foi um retorno diferente do que esperava. A uni-los a mesma alegria
enquanto mergulhava.
Mas Cartagena significou tambem uma grande mudança na minha
viagem. Enquanto passeava por sites - no jardim interior da vivenda colonial
que morava - descobri que a parte “pobre” da viagem tinha começado. Fui ao site do banco e o saldo era menor do
que esperava. Numa outra altura isso ter-me-ia demolido. Hoje sentí que
necessitava deste impulso para completar a viagem. Desde o início que queria
ter uma experiência de trabalho ou voluntariado mas a preguiça sempre o adiou.
Agora nao tinha alternativa. E isso deixava-me contente.

Foi com este espirito que cheguei a Santa Marta. Um porto de
passagem para quem quer conhecer as pérolas à sua volta. Existem poucas regioes
que te oferecem tanto como esta. Tens o Parque Natural de Tayrona com as suas
praias paradisiacas, que tens de conquistar com uma caminhada de uma hora pelo
meio da selva. Tens Minca, um eden verde e montanhoso que serve de ponto de
arranque para o Trekking da Ciudad Perdida. Ou se quiseres ir mais além tens a
neve da Sierra Nevada…
Apesar de ter adorado todos estes cenários, levei de Santa
Marta algo bem diferente. Um sentimento de pertença a uma familia. O corte
orçamental fez com que ficasse mais
tempo no Hostel. E aos poucos fui ficando – só por esta altura é que Alejandro
me tinha avisado que o único risco em Colombia é que queiras ficar – e
conhecendo todo um conjunto de pessoas extraordinárias que me envolveram.
Também foi aqui que comecei a construir uma ideia com consequências ainda imprevisíveis. No
meio da pesquisa de trabalhos, passei por muitas ofertas de voluntariado. E se
a maioria nao me atraía por ter de pagar, começou a nascer a dúvida sobre que
tipo de voluntariado pretendía. Percebi, no meio de um turbilhao de ideias, que
aquilo que mais quería era ajudar dando um pouco de mim. Assim nasceu uma ideia
em torno da volta ao mundo e da fotografía.
Mas ainda necessitava de amadurecer essa ideia e o tempo era
de partir para Manizales. Queria ter uma experiência mais profunda e um poster
com a oportunidade de ir viver durantes uns días com uma familia rural tinha-me
seduzido.
Cheguei a Manizales com uma cabeça cheia de ideias e um
espirito â procura de outras aventuras. Antes de partir para Hojas Anchas
conheci Jenny, a emprendedora do negócio social que estava a participar. Tinha
vindo ter comigo para me saudar e explicar um pouco o que faria em Hojas
Anchas. No meio das palavras trocadas um outro cambio, o de ideias. A mina
ideia vaga combinava com a ideia que ela tinha para um dos seus projetos.
Despedimo-nos com um até breve.
Era altura de conhecer uma outra Colombia. Uma feita de
estrada de terra, shivas (autocarros de transporte) e casas dispersas por
montes quase inacessíveis. A única coisa que já conhecia - e que voltei a rever
- foi a enorme simpatía e coraçao caloroso dos seus habitantes.. Foi só um dia,
mas naquela familia rural encontrei uma casa “enorme”. Uma daquelas
experiências que enchem a tua alma de sorrisos e que ficam tatuadas na tua
memoria. De tal forma que o adeus fica pesado e difícil de dizer.
Quando regressei era altura de confirmar as ideias trocadas.
E desse momento até estar a trabalhar no projeto foi um suspiro. Entretanto
mudei-me para a casa dos voluntários e entrava num mundo novo. A viagem
abrandava o ritmo das milhas mas aumentava a de conhecimento. Creio que
necessitas de parar um pouco sempre que andas tanto e este é o sitio perfeito
para o fazer. E oportunidade puxa oportunidade e ali estava eu a fazer o meu
primeiro trabalho como fotógrafo: cobrir um evento. E correu mesmo bem. Tanto
que acabei por ter a sorte de uma fotografía que tirei ser publicada num jornal
nacional da Colombia. Quando terminei o clima era de festa e eu sorria enquanto
brindava a uma boa conclusao de trabalho.
Mas a perfeiçao tem de ser imperfeita e acordo no dia
seguinte para descubrir…
…que o meu computador tinha sido roubado. Alguém tinha
entrado e saqueado a nossa residência. O primeiro impato foi de choque extremo.
Pensei que tinha perdido todas as minhas fotos e textos com o computador. Com o
tempo descobri que afinal apenas foram as de Colombia.
Mas o duro golpe estava dado. E o que tinha acontecido
obrigou-me a repensar toda a minha viagem. Mais que isso obrigou-me a olhar
para o futuro para tomar uma decisao no presente. E ai percebi que muito tinha
mudado…