Friday, November 11, 2011

Isto também faz parte da viagem...


Uma pessoa acorda sorridente e feliz da vida. A imaginar a quantidade de balões que vai ver quando abrir a porta do quarto e... está um dia cinzento e frio. Daqueles que só apetece ficar junto a uma lareira e não fazer nada. “Nada demais” penso enquanto desço as escadas para tomar o meu pequeno-almoço.



Altura de bomdiar o pessoal da estalagem. Neste caso apenas um, o Chris, um viajante suiço. Mas no caso dele a fazer uma slow trip – uma viagem de bicicleta à volta do mundo. Por enquanto está por aqui, neste trabalho, enquanto prepara o seu próximo destino. Para além do pequeno-almoço – tostas com manteiga e compota acompanhadas de chá – fornece-me também umas dicas sobre sitios que devo ver. Algo que acolho com muito gosto e que decido seguir.


Mochila nas costas e lá vou eu. O inicio é simples, uma estrada no meio de uma planície quase desértica. A meio sinto uma gota de água. “Estou a imaginar coisas...” digo para acalmar a minha preocupação crescente. Mas depois da primeira vem sempre uma outra, e quando o meu blusão começa a ficar molhado já não posso ignorar a realidade. Olho para a frente e vejo o céu carregado e nenhum abrigo. Uma simples chuva não me preocupa. Chuva, frio e vento já é outra história.


Decido, muito a contra-gosto, regressar à pequena aldeia turistica que é Göreme. Começou hoje a época baixa e por estes lados não existe muito que fazer. Decido retemperar o meu espirito com o melhor café latte do sítio (pelo menos é o que publicitam). O café é cosy e o latte é mesmo bom. Mais bem disposto, decido dar utilidade ao meu dia. Começo por comprar o meu bilhete de ida para Ankara e parar no supermercado para comprar algumas coisas que precisava. Dia de escrita e afazeres. Respiro fundo e tomo consciência do que tenho pela frente.


Entro na pensão determinado. Um dia tinha de o fazer, e apesar do frio, hoje é o dia: tenho de lavar roupa. Olho à minha volta e encontro um balde e alguidar. Essa parte está tratada. Agora é encontrar um sitio para pendurar abrigado da chuva. Saio para a varanda e encontro o cordel. No entanto está suficiente laço para se colar à parede, algo que teria de solucionar. Vou à mochila, e tiro do meu saco “macgyver” o cordel que trouxe comigo. Nó para aqui, ajuste para ali e em três tempos tenho o cordel da roupa bem esticado. Depois é altura da árdua tarefa. Faço-a com um sorriso no rosto.


Passo o resto do dia na pensão. Esta parece um abrigo de viajantes perdidos no deserto. Tem um charme difícil de explicar. Um empregado turco que fala pouco inglês e mal te liga. Um sistema de self service de bebidas em que somos nós que apontamos o que consumimos num papel disponível ao lado do frigorifico. E uma dessarrumação que nos faz sentir em nossa casa. Não sei o que é, mas gosto.


Apesar de não ter feito nada, chego ao fim do dia feliz. Afinal isto também faz parte da viagem. E apesar de não ter o glamour de outras actividades, sei que é um passo no caminho que iniciei onze dias atrás.


P.S. Agora rezo para que as roupas não congelem com este frio infernal (prevê-se temperaturas negativas)

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