Sunday, November 6, 2011

What (Is)tanbul

Na Europa “ocidental” a Turquia parece um país fechado, conservador e distante. Preconceito muitas vezes estendido a Istanbul. Na melhor das hipóteses, temos uma ideia duma cidade distante e exótica. Nada pode estar mais afastado da realidade. Percebi isso logo que desci das nuvens e vi pela primeira vez “A Cidade”. Foi uma tonalidade familiar que me acolheu. Por momentos parecia que chegava a casa.

Não estava preparado para isso. Fruto dos meus próprios preconceitos, tinha imaginado uma cidade transformista, um local de passagem para sitios mais exóticos. E como eu estava enganado. O nome da cidade foi escolhido a dedo. Esta é uma cidade que vale por si só. Não se consegue realmente descrever. Tentar fazê-lo é como apanhar o vento com as mãos. Não é algo que se agarra mas sim que se sente.






Então o que é Istanbul? É certo que encontraremos pessoas com véus na cabeça. Que o horizonte é marcado pelas suas inúmeras mesquitas, ou que os muezzins nos lembram que é o momento para rezar. Mas quem vê apenas isso, vê uma cidade que não existe.

É impossível para mim responder à questão. Tem sido difícil escrever este texto. Talvez por ser o primeiro, ou talvez por sentir a responsabilidade de escrever sobre uma cidade que aprendi a amar e a respeitar. Logo quando cheguei a Aya Sofia Meydani, uma praça que medeia as duas conhecidas mesquitas, senti isso. Nunca as apreciei muito. Habituado a templos muito ornamentados, as que conhecia sempre me pareceram despidas e frias. Isso mudou aqui. Estar no meio destas é estar no meio de um desafio entre dois belos monumentos. É uma sã rivalidade que os muezinns parecem acompanhar na altura do chamamento.

Nesta zona conseguimos encontrar três das atrações mais conhecidas desta cidade a uma distância de cinco minutos. Para além da Mesquita Azul e Ayasofia, existe também o Palácio Topkapi. Um palácio que vale mais pelos seus espaços, arquitetura e história, do que pela beleza dos seus quartos interiores.

Como seria de esperar, todos estes sitios estão cheios de turistas, e com estes aparecem os vendedores de tours ou guias “profissionais”. É uma harmonia caótica que se vive aqui. Sendo que uma pessoa nunca se sente incomodada com as ofertas. É um facto que te abordam à primeira oportunidade, mas também te largaram quando não mostrares interesse. Tal como no mercado mais conhecido, o Grand Bazaar. É sem dúvida impressionante. Um mundo por si só, com as suas imensas ruas e ruelas. Parece um outro universo, e passado 10 minutos temos a impressão de que conseguiriamos viver sem nunca sair lá de dentro.

Toda esta zona foi um excelente arranque para a minha aventura em Istanbul, mas se se resumisse a isto, não seria a cidade que tanto gosto. Sortudo como sou, tive o privilégio de ir um pouco além do circuito normal turistico. Devo-o a três amigas desta maravilhosa cidade. E talvez mais que tudo o que tenha visto e experimentado, elas são o que de melhor esta cidade tem para oferecer: uma enorme simpatia e um extraordinário prazer em nos mostrar o que de melhor existe.

A uma devo a experiência de comer os melhores profiterolis do mundo. Encontram-se na Istikal Caddesi, uma avenida parecida à nossa Rua Augusta. Numa pequena pastelaria (INCI Pastanesi) está a harmonia perfeita entre os ingredientes que compõem este doce. O único perigo é uma pessoa não conseguir parar de comer e arruinar o seu orçamento para a viagem (apesar de não serem caros - 5 liras cada). E para quem me conhece sabe bem que não sou guloso, mas este local tornou-me num.

Para além desta experiência, segui o conselho de visitar duas zonas da cidade: Ortaköi e Vali Konagi Caddesi. O primeiro é um bairro cheio de comercio e cafés. Fica perto da Bogaziçi Köprüsü, uma das pontes que une a Europa à Ásia. Daqui podemos fazer um pequeno cruzeiro de uma hora pelo Bósforo e admirar a belas casas e paisagens que ficam situadas nas suas margens.

A zona da Vali Konagi Caddesi é uma zona comercial e em que não se encontram muitos (ou mesmo nenhuns) turistas. Um óptimo sítio para ver esta cidade a se movimentar. Passei uma excelente tarde de Sábado e terminei num café: The House café. Apesar de não ser tradicional, serve comida que nos satisfaz todos os sentidos. Fica num sitio calmo, na Atiye Sokagi nº 10, uma transversal à Tesvikie Caddesi (que parte da Vali Konagi), constituida por restaurantes e cafés chiques situados nos apartamentos desta rua. Aqui encontramos muito glamour e estilo, e percebemos que a imagem vendida na Europa “ocidental” está tão fora da realidade.

A uma outra amiga devo uma excelente noite passada em Tophane a fumar Nargile e a conversar. E, principalmente, a conhecer um pouco mais da realidade deste país e desta cultura. Apesar da viagem ainda ir no início, é um dos momentos que não irei esquecer. Aqui pude testemunhar ao vivo a enorme simpatia deste povo. Passar uma noite nesta zona é por si só uma experiência. Passa-lo, na companhia das pessoas que conheci, é algo extraordinário e que guardarei no meu coração.

Finalmente, a terceira pessoa deu-me a oportunidade de poder fazer à noite uma caminhada entre Tophane - que fica na parte norte - e Sultanahmet - a zona histórica da cidade. Entre palavras, pude conhecer como esta cidade tem aspectos mais liberais que muitas congéneres europeias, ou como, pela Ponte Galata, as dezenas de pescadores passam o seu tempo pelo prazer da pesca. Aos meus olhos eles seriam profissionais, tal o empenho com que se dedicam àquela actividade, no entanto a realidade é que é pela paixão que o fazem. E a essa hora nocturna existe quase um mundo paralelo. Pessoas estão à volta de uma fogueira enquanto outras vendem comida. Um mundo auto-sustentável e também muito apaixonante.

E talvez seja isto que esta cidade é: apaixonante. Como disse no início, não a sei definir. Talvez seja um pouco de tudo. São milhões de vidas que cruzam estas ruas, e que, pouco a pouco, transformam esta cidade em algo único. Aqui, eu não vejo uma ponte entre o Ocidente e o Oriente, nem sequer vejo exotismo. Aqui, vejo uma cidade que é única e que vale pelo seu todo. Vejo simpatia sem paralelo e um sítio a que poderia chamar de casa. Esta é “A Cidade”, e acho que depois desta experiência também a levo comigo. De uma forma inexplicável também tornou-se a minha cidade. Talvez isso seja Istanbul...




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