Sunday, March 11, 2012

O Puto Viajante, o Líder e o seu Sol


Rezam as lendas que anda por aí um puto viajante com um rasgado sorriso. Um daqueles que se formam quando um sonho é realizado. Este acompanhou-o àquela já-não-tão-confusa estação de comboios em Agra. Ainda deslumbrado com o Taj Mahal, ia à procura do lugar da sua carruagem. Para seu espanto, esta estação tinha essa informação em placares electrónicos. Seguia atentamente a contagem decrescente. “S7, S6, S5, S4, S3, S2...” e a estação terminava nesse número de carruagem.

“É mesmo India” pensou enquanto olhava para a distância entre placares para descobrir o local em que a S1 – sua carruagem - se encontraria. Por esta altura já duas pessoas o tinham “mirado”. Ele, um calmo Che Guevara, ela uma estrela brilhante. “Deve ser argentino ou chileno” pensou o Che Guevara e decidiu abordar este puto viajante com o seu castelhano.

“Estas na coche S1?” pergunta que deixou o puto algo surpreendido.

“Si, mi coche is S1” Por esta altura o puto viajante tem uma certa dificuldade em manter uma conversa que não tenha uma ou outra palavra em Inglês

“Nosostros tanbien, donde es?” Um desbloquador de conversas tradicional entre viajantes.

“Portugal” respondeu o puto, para receber um sonoro “Ahhhh... Portugal!” que o deixou surprendido

“Nós vivemos em Portugal”  e agora foi a vez do puto largar um sonoro “Ahhh... Portugal!”. De imediato estabelecem uma ligação própria de povos latinos. A festa estava montada e os risos ouviam-se entre as palavras e emoções gesticuladas.

Eles apresentam-se. Chamava-se Líder e era equatoriano. Sua mulher era Sol e chilena. Depois de uma vida de viagens tinham parado em Portugal para criar familia. E agora, com ela criada, retomavam o prazer das viagens.

O comboio entretanto chegara, e depois do puto viajante fazer aquilo que todos os guias não recomendam: deixar a bagagem sozinha no seu banco, retomam a conversa largada. A palavra saudade voltava a fazer sentido, enquanto eles recordavam – e salivavam – pela comida portuguesa. E entre histórias de Portugal e experiências da India, o tempo ia passando.

Ele deixa-se encantar pela calma do Líder e a vida em Sol. Mas mais que tudo sente uma familiriedade quase esquecida. Uma de sorrisos e toques, de expressões e emoções entre palavras. Algo próprio de quem é latino. Está de novo em casa, e bebe as histórias de vida fantástica destes dois viajantes. Sente-se transportado para a latinidade daquela América e tem a certeza que essa parte da viagem irá tocá-lo profundamente.

Mas o coro de ressonos já cantava alto. Era altura de despedir. Um “até amanhã” partilhado e o puto tateava pelo corredor até à sua cama. Quando chegou descobriu a sua mala intacta e um sonoro companheiro como companhia. Nada que retirasse o sono, e foi com um sorriso que adormeceu...

4 comments:

  1. Epá muito obrigado! Sei que tenho estado ausente mas em breve estarei de volta com mais aventuras... :)

    ReplyDelete
  2. qunatos sorrisos me deixam as tuas estórias.... :)

    ReplyDelete
  3. Epá e como sorrio ao saber isso :)

    ReplyDelete