Para trás ficaram
as noites mal dormidas. As cartas entregues e os acordares no meio do
desespero. Ficaram as lágrimas. Umas contidas, outras largadas com a
fúria da emoção. Os telefonemas e emails. Ficou o esperar pela
hora de saída, com a ânsia de quem está perdido no mar e precisa
de respirar. Ficaram as filas de trânsito e as sestas num carro que
transparecia a minha alma.
Tudo isso ficou
coberto na manta do esquecimento. Uma memória vaga e tão distante
que parece um sonho perdido no tempo. Essas recordações são agora
poeira. A minha memória guarda outros momentos.
Comigo ficou o
sorriso gentil. As histórias partilhadas. Ficaram as músicas e os
olhares. Uns ternos, outros eternecidos. Ficou aquele abraço sentido
no momento de despedida. Ou os cafés, muitos tomados em horas de
puro entretenimento. Ficaram os clipes a voar e as partidas que
fizemos. Ficam as pessoas, agora e sempre.
A manta do
esquecimento também começou a cobrir a minha viagem. Para trás
ficam momentos que não vou voltar a sentir. Alguns serão meras
memórias vagas. Outras serão o tecido que envolve toda esta
aventura.
Descubro assim a
benção do esquecimento. Aquele dom de refinar o que vivemos. Que
somos nós que escolhemos essa manta. Somos nós que fazemos os
buracos pelos quais poderemos vislumbrar as nossas memórias. Mais
que ter a sorte de encontrar a felicidade, somos nós que a
construirmos. Quer seja a do presente, quer seja a da nossa memória.
Até porque o único momento que existe é o agora. O que engloba o
passado, presente e futuro num instante só.
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