Wednesday, May 30, 2012

Le moi errant: Esquecimento


Para trás ficaram as noites mal dormidas. As cartas entregues e os acordares no meio do desespero. Ficaram as lágrimas. Umas contidas, outras largadas com a fúria da emoção. Os telefonemas e emails. Ficou o esperar pela hora de saída, com a ânsia de quem está perdido no mar e precisa de respirar. Ficaram as filas de trânsito e as sestas num carro que transparecia a minha alma.
Tudo isso ficou coberto na manta do esquecimento. Uma memória vaga e tão distante que parece um sonho perdido no tempo. Essas recordações são agora poeira. A minha memória guarda outros momentos.
Comigo ficou o sorriso gentil. As histórias partilhadas. Ficaram as músicas e os olhares. Uns ternos, outros eternecidos. Ficou aquele abraço sentido no momento de despedida. Ou os cafés, muitos tomados em horas de puro entretenimento. Ficaram os clipes a voar e as partidas que fizemos. Ficam as pessoas, agora e sempre.
A manta do esquecimento também começou a cobrir a minha viagem. Para trás ficam momentos que não vou voltar a sentir. Alguns serão meras memórias vagas. Outras serão o tecido que envolve toda esta aventura.
Descubro assim a benção do esquecimento. Aquele dom de refinar o que vivemos. Que somos nós que escolhemos essa manta. Somos nós que fazemos os buracos pelos quais poderemos vislumbrar as nossas memórias. Mais que ter a sorte de encontrar a felicidade, somos nós que a construirmos. Quer seja a do presente, quer seja a da nossa memória. Até porque o único momento que existe é o agora. O que engloba o passado, presente e futuro num instante só.

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