Thursday, May 31, 2012

Um dia em Vietiane

Tenho de pedir desculpa. Depois de tantos dias, e textos, ainda não te levei a passear por um dia meu. Já escrevi alguns episódios, muitas emoções e ainda mais palavras. Mas nunca te disse como é um dia na viagem. E este é o momento certo. Estou numa cidade que não tem muito para contar. E só tenho planeado escrever os artigos.
Ok, encontro-te à porta do meu quarto. Acabei de sair da casa-de-banho que é comum e fica no corredor. Desculpa, mas vou ter de voltar ao quarto. Esqueci-me da carteira no meio da confusão. O quarto é maior que o habitual. Um single, com duas ventoinhas e muito espaço, que faço questão de ocupar com as minhas coisas. Sacos, meias e um pouco de tudo está espalhada pelo chão. Não te preocupes com as marcas de sujidade na parede. Não te fazem mal e o importante é que os lençois estão limpos e sem bedbugs – esse terror do viajante. Tudo o resto, uma pessoa consegue sobreviver... ou quase, que este calor infernal não desaparece com as ventoinhas.
Bem, vamos descer que é altura de sair daqui e eu já encontrei a minha carteira. Descemos os 3 andares até chegar ao rés-do-chão preenchido por uma recepção e um restaurante. O aspecto é colonial e a simpatia própria deste país. Antes de sairmos tenho de pagar. 50.000 kips pelo luxo de estar num single. Não te assustes, isto é apenas 5 euros. Vamos embora que o meu estomago aperta e preciso de tomar o pequeno-almoço.
Puff... não me consigo habituar ao calor sufocante desta altura. É um ar abafado e humido que te faz suar em bica cinco segundos depois de saires para a rua. Sim... habitua-te, quando estás na rua o suor é um eterno companheiro. Vamos por esta rua à direita da rua principal. Depois da loja das massagens – sempre convidativas – e do hostel-dormitório está um pequeno stand de comida e sandwiches. As sandes são boas, mas é pelo café que aqui venho. E claro pela simpatia dos donos. Não falam inglês, mas o sorriso é universal e a simpatia não precisa de traduções.
Sentemo-nos na pequena mesa de cimento com um jogo de xadrez embutido. A ventoinha traz um pouco de alívio. Daqui podemos ver a rua e tudo o que se passeia nela. Um leque tão variado como a população deste local. Turistas, nativos de motos ou vendedores ambulantes. O café está optimo, como sempre. Altura para fumar um cigarro e aproveitar os 5 minutos de fumo para pensar um pouco na vida. Não poucas vezes este é o momento em que reconheço a sorte da vida que estou a viver. Depois deste momento altura de pagar. 11.000 kips (1 euro e 10 cêntimos) e um estomago satisfeito
Pego na minha mochila azul que tem o computador e vamos para o meu “local de trabalho”. Este é o meu segundo luxo do dia: um café chique. Daqueles que encontramos um pouco por todo o mundo – como o starbucks – e que nos dão a certeza de encontrar lá dentro um espaço com ar-condicionado e wi-fi. Fica no final da rua do hotel. Pelo caminho repara nos Wat's (a.k.a templos) que existem. Limpos e imponentes. São a imagem e a atração desta parte da cidade. São o T na palavra turística desta zona. Mas hoje não é dia de visitas, mas sim de trabalho.
Já tenho a minha t-shirt molhada com o calor que sinto, e a minha cabeça parece uma fonte. Altura de entrar. Uma vez lá dentro, é só escolher um lugar. Ao pé da porta, pode ser? É que não posso fumar cá dentro. A bebida – que é o passe que me permite entrar no meu “escritório” - custa 16.000 kips (1 euro e 60 cêntimos). É mesmo caro por uma bebida, mas não é muito para um escritório com electricidade, ar condicionado e wi-fi. As próximas horas são passadas a escrever, ouvir Deolinda e passear-me pelo facebook. Repara nos turistas e a classe média que entra e sai. Muitos agarrados aos seus computadores, ipads e smartphones.
As horas passam, o trabalho está feito e sol já se pôs. Altura de jantar. Já arrumei e voltamos para a rua. Agora o calor já não é tão intenso. Passamos pela esquina da rua. Não ligues ao condutor de rickshaw que tenta vender uma corrida. “Just walking”, com um sorriso, é a resposta mais rápida e certeira. Ele não desiste e tenta vender o seu segundo produto: “smoke?” pergunta em surdina. “No, no” respondo com um sorriso maior.
Contornamos um dos Wat's e a meio da rua existe um descampado. Aqui estão três “restaurantes” de rua. Sentamo-nos num dos banco de plástico e esperamos uns segundos até que nos entreguem o menu. Para mim escolho uma noodle soup que custa 30.000 kips (3 euros). Algo que é suficiente para satisfazer a fome. Agora já consigo comer com os pauzinhos chineses e, tenho de dizer, que até sabe melhor dessa maneira. Não sei como aprendi. Falta de vergonha ou simples necessidade. Claro que para o caldo é necessário a sopa. Mas para os noodles, galinha e pequenos pedaços de salsicha, os pauzinhos são a melhor opção. E até os rebentos de soja já consigo apanhar.
A hora já é adiantada e é altura de voltar ao meu hotel. Deixo-te, livre para ires para onde quiseres. Eu por mim vou descansar, que um dia de trabalho deixa sempre as suas marcas...

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