Passeio-me pelas ruas do mercado. Passo despercebido, talvez pela tez da minha pele. Tal dá-me liberdade para reparar o que as bancadas oferecem. Antiguidades, instrumentos músicais ou colares. Aqui e ali, especiarias e música. Aproveito o momento e vagueio distraído.
“Do you want to come in?” questiona-me uma mulher de olhar enigmático. Não tenho muito interesse mas pergunto-me “porque não?” Tinha tempo e ela tinha desperto a minha atenção. Seus cabelos, apesar de um liso moreno, traziam a imagem de selvagem. A sua presença transmitia uma calma e curiosidade para ver o que tinha para oferecer.
“Please sit down... I will bring it in a moment” Faço um olhar de espanto. Ela retribui com um sorriso e um abanar de cabeça. Afasta-se para outra sala. Mesmo antes de sair passa por uma imagem de Cristo e benze-se. Desaparece por detrás de uma cortina. Consigo ver um vislumbre do que se esconde por lá. Um belo e pouco cuidado jardim. Deixado ao acaso do destino. Em vez de dominar a natureza deixaram-na ocupar esse espaço. E ela tinha criado um pequeno, mas belo, retiro.
Volta à sala. Parece-me mais bela que antes. Reparo em novos pormenores. Vejo a cruz tatuada na sua mão, a forma suave como anda e as cores vivas do seu sari. “Take it...” diz-me enquanto entrega um pequeno frasco. Eu não sei o que fazer com ele. Ela adivinha a minha inaptidão e faz-me um gesto para o beber. No início desconfio, mas deixo-me ir.
Sinto uma profunda calma à minha volta. As preocupações desaparecem. Sinto-me bem e em paz. Que posso vaguear. Sorrir com as coisas simples da vida. Tudo deixou de ser complicado. A minha pele sente um calor húmido aconchegante. Ela saí da sala e desta vez deixa a cortina aberta. Eu deixo-me estar. Olho, e o verde tornou-se mais brilhante. As árvores compõem-se com flores. Vejo os diferentes pássaros que saltam nos seus galhos, enquanto um macaco creme me observa. Por cima da copa reparo na águia que circula por lá. Olho para o relógio e sei que é quase altura de partir. Deixo-me estar um pouco mais.
Quando por fim me levanto, leio o que está escrito na garrafa. Uma só palavra: “GOA”
Corajoso!! :) E bom texto, que me cativou do início ao fim, a pensar no que iria acontecer :) de bom, claro! Joana MF
ReplyDeleteObrigado! É mesmo bom saber isso :)espero conseguir continuar a fazer isso :)Beijinhos JC
ReplyDeleteP.S. Não foi coragem, foi mesmo só deixar-me ir :)