Thursday, December 15, 2011

Ordo Sounsar


A primeira vez é unica. Um momento irrepetível. Deixa uma marca em ti. Por vezes é planeada, outras aparece de forma imprevista. Em ambas, o teu corpo enche-se de nervosismo e ansiedade quando se apercebe que o momento está a chegar.

A minha primeira vez apareceu de forma inesperada. Tinha ficado para ver a lua cheia em Palolem. A luz foi abaixo enquanto ia a caminho do restaurante. Na sua ausência recordo o motivo por que estava naquele lugar e olho para o céu. Ao reparar nela, acho irónico que tal não se concretiza. A noite tinha nuvens e a lua queria ficar atrás delas. Dou largas à minha imaginação e penso como seria interessante se a ausência não fosse das nuvens mas dum eclipse.

Não estava chateado. A luz era forte o suficiente e eu estava n'outro mundo. Este tinha sido o nome escolhido pelo Serafin: Outro Mundo – Ordo Sounsar. E o gosto que tinha empregue em cada detalhe fazia-nos transportar para esse espaço. Não era só a ponte ou a localização no meio da floresta. Era a pouca quantidade de cabanas. O restaurante-telheiro no seu centro – local ideal para saborear os pratos confeccionados na perfeição. O local de repouso à beira-rio com uma vista magnifica. Era um gosto em ser um espaço eco-friendly. Em que cada peça de madeira é certificada. Entrelaçando todos estes detalhes estava a simpatia de J.D., Serafin e dos empregados. Para além de um espaço físico criaram um espaço emocional perfeito.

Espero pela minha refeição num ambiente à luz das velas. Ouço um burburinho vindo da zona do bar. O Serafin andava para trás e para a frente. Não ligo muito. Imagino que seja o stress da falta de energia. Mas quando a palavra “eclipse” chega aos meus ouvidos, todos os sentidos despertam. Intrigado, decido aproveitar a próxima oportunidade para lhe perguntar. Quando recebo a confirmação nem quero acreditar. O meu primeiro eclipse... assim... inesperado... O meu corpo quer dar pulos de alegria mas satisfaz-se com um rasgado sorriso.

“Nós temos binóculos” Diz-me J.D. E eu, junto-me a eles na partilha deste momento. A lua, indiferente à nossa alegria, vai-se cobrindo pela sombra da terra. Sabe que é o centro das atenções e a cada minuto embeleza-se mais. Muda de cor. Nós, hipnotizados, deixamo-nos ir até à fragil ponte de madeira. Ali, no meio do nada, podemos contemplar a beleza em todo o seu esplendor. À nossa frente distingue-se a silhueta das palmeiras. Atrás de nós, as ondas do mar compõe a mais bela sinfonia. Por cima, as estrelas tecem um belo manto brilhante. Conseguem agora romper a timidez que a lua cheia impunha. Esta é uma esfera escura mas bem delineada. Um fruto proibido que poderiamos pegar e saborear se assim o quisessemos. Mas não queremos, tudo está perfeito desta forma.

“A refeição está pronta” e eu estou pronto para a refeição. Sinto-me aconchegado pelo momento. À minha frente a lua vai-se despindo do seu manto. Delicio-me com cada pedaço de comida que vou experimentando. Entretanto deixo-me embalar por uma boa conversa e excelente companhia. O momento da lua ficou para trás. Nunca a cheguei ver cheia. Afinal, ela própria era agora um detalhe a compôr este outro mundo onde eu vivia... 

No comments:

Post a Comment