Thursday, April 12, 2012

As emoções entre Chitwa e Pokhara


A vida hoje está fácil. Entre a internet e os guias, existe pouco deste mundo que não está coberto. Podemos descobrir o que fazer em cada local e até o que o mesmo contém. Preparamos o viagem ao ritmo da nossa imaginação. Mas se um dia formos a esse local, verificamos que o mesmo é muito mais que isso. Que para além do que está escrito, os locais são únicos e nossos. A viagem ultrapassa o que vemos e transforma-se naquilo que sentimos.

Chitwa

É pequena e podes fazer tanto quanto desejares. Entre o não fazer nada ou teres o dia preenchido a escolha é tua. Mas tudo girará à volta de uma coisa: a selva. Eu acabei por chegar como turista. Tal significava que tinha tudo incluído. Neste caso uma jungle walk, canoeing (que na realidade significa andar de canoa), Elephant Ride, museus (dois, em que o maior interesse é mesmo as coisas estranhas que encontras lá), e um espetáculo de dança tradicional (cujo o ritmo é diferente do que estava habituado e que valeu a pena).
De todas as actividades, sem dúvida foi a Jungle walk que captou a minha emoção. Não que tenha encontrado animais perigosos... longe disso. Na caminhada a única coisa que vi foram insectos, veados e... galinhas selvagens. Mas não há como fugir à sensação de vulnerabilidade. Caminhamos num local com uma visibilidade de 3 metros. Os únicos sons que ouvimos são os da vida selvagem, dos nossos passos e da nossa respiração. Todos os nossos instintos ficam alerta. E a simples ideia de que a acompanhar os sons – reais ou imaginados – pode estar um urso, um rinoceronte ou um tigre, faz o teu coração disparar. Sabes bem em que parte da cadeia alimentar te encontras.
E nada foi mais real do que no momento em que começamos a ouvir o som das folhas secas a serem pisadas. O som era cada vez maior, o ritmo elevado e vinha ao nosso encontro. Rodeados de vegetação densa era impossível saber o que era. Entre batidas cardíacas aceleradas, eu tentava recordar o que fazer para cada animal – ziguezague ou árvore para o rinoceronte, manter formação para o urso, olhar nos olhos do tigre e correr como não existisse amanhã para o elefante. Claro que tudo se passa demasiado rápido, e quando o animal apresenta-se, é um alívio ver que é um simples veado.

Pokhara

Pokhara tem um lago. Um belo lago. Tem um Peace Pagoda onde podemos contemplar a paisagem à nossa volta. Chegamos lá a pé ou então atravessando o lago de barco. Tem muitos restaurantes e algum comércio. Tem a rua principal do turismo – lake side. Uma rua larga com o tipo de comércio que encaixa nos turistas e viajantes que por aqui passam. Pokhara também tem uma paz de espirito próprio de um cenário belo.

Mas a minha Pokhara tem uma rua. Uma que saí da Lake Side. Tem asfalto por entre os buracos e é ladeada por duas valetas que servem para escoar a chuva. A rua não têm passeios. Mas tem comércio. Tem pequenas mercearias, onde as donas esperam pacientemente por clientes. Sempre que um turista passa, cumprimentam com um simpático “Namaste”. Perguntam se querem algo. Um “algo” que vai desde uma simples garrafa de água até lavar a roupa. Tem barbearias onde turistas e nativos deixam os donos fazer a sua magia. Estes, com a lamina transformam uma cara barbuda em algo apresentável. Tem também as pequenas agências de viagem, os ciber-cafés e as pousadas.

E a minha rua tem pessoas, risos e emoções. Tem uma família que nutre as pessoas com a sua simpatia. Tem crianças que brincam na rua com o pouco que têm – uma bola de basquetebol - e o muito que possuem – alegria e imaginação. Por entre elas passam turistas, vizinhos que trocam palavras com os seus pais ou vacas com o seu espirito zen.

E por entre este espírito calmo de estar na vida eu encontro a minha Pokhara. Não a turistica, mas a das emoções que transmite. A de uma vida serena, onde não sentes falta de visitar o highlight de um qualquer guia de viagem. Por aqui reencontro uma forma simples de viver. Um saber estar parado a contemplar a riqueza à minha volta. Um espaço emocional de pessoas onde guardo os (sor)risos, as conversas e os olhares que se cruzam.

No comments:

Post a Comment