Sunday, April 1, 2012

Adeus India, Olá Nepal

Já não estava habituado. Depois de 3 meses no mesmo país, heis me de novo a preparar mais uma viagem ao “estrangeiro”. Voltava a sentir o nervoso miudinho no meu estomago. Como presente de fim de India, comprei a viagem de avião para Kathmandu via Delhi. Motivo pelo qual me encontrava no pequeno aeroporto de Dabolim em Goa.
Gosto de pequenos aeroportos. São mais compatíveis com o sentimento de viagem. Os internacionais são higienicos e pertencem a um mundo próprio. Poucas diferenças existem entre eles. Os pequenos têm mais caracter mas também menos para matar o tempo. Este apenas oferecia um café e uma pequena livraria para nos distrairmos. Enquanto olhava para a pequena colecção de livros a minha mente deambulava pelos os sentimentos de uma despedida. Uma viagem tão intensa como a indiana não desaparece com uma simples passagem de fronteira, pelo que preparava o meu corpo para receber o Nepal.
Mas isso ainda estava distante. Antes tinha de passar pela burocratica entrada na área dos viajantes, chegar a Delhi, esperar oito horas repetir tudo uma vez mais até poder chegar ao Nepal. Desde o primeiro dia – e único que utilizei o avião – que estes procedimentos necessários me espantavam. Para um país tão “organizado” como este, era impressionante os passos para atravessar um simples checkpoint.
Fazemos o check in como em qualquer outro país. Esperem... esqueci-me de dizer. Antes deste tens de passar a mala por uma máquina de raio-x - que “convenientemente” está num outro local. Se tiveres sorte - e nada que incomode os seguranças - então recebes um carimbo de aprovação. Claro que não foi o meu caso, e quando a minha mochila foi colocada à parte, já sabia que a vida não seria fácil.
“No lighters...” diz-me o segurança com um simpatico sorriso. Já estava à espera depois de ter perdido os meus quando cheguei à India.
“Is it ok now” perguntei, só para ter a certeza que não cometia nenhum erro ao pegar na minha mochila. Ele olha para o outro segurança, e apesar de não perceber hindi, consigo entender que ainda não...
“Do you have cameras?” pergunta que eu sinto como um punhal nas minhas costas. “sim...” respondo com hesitação. “...mas não faço a minima ideia onde... omg, vou ter de tirar tudo de dentro da mochila...” penso, enquanto a outra parte do cerebro tenta encontrar uma solução.
“Can I see the picture?” foi a que encontrei. Isso e rezar que não estivesse no pior sítio, o meio da mochila.
“Yes of course” e ao ver suspiro de alívio quando reparo que estavam no topo da mochila.
Com este problema resolvido, vou para o check in. Algo que não é complicado. Com a mochila no limite do peso – para meu espanto – é só dar o passaporte e receber o bilhete. Altura para mais uma burocracia: passar para a zona dos passageiros. Nada de especial... bem isto se a pessoa no check in me tivesse dado o papel para ser carimbado pela segurança do check point. Descubro essa falha depois de passar 10 minutos na fila. Altura de regressar ao check in, pedir a etiqueta e voltar a estar mais 15 minutos na fila.
Finalmente na zona de espera do meu avião. A partir deste momento tudo foi simples. Quando o avião levantou voo, parte de mim já se despedia da India. Faltava só a etapa de Delhi, uma noite passada no aeroporto. Mas como estava na India, ainda me estava reservado uma surpresa...
Logo à saída do avião tinha um sentimento estranho. Uma incompatibilidade entre o que a minha mente previa e os meus olhos viam. Algo que confirmei quando saí com a mochila do aeroporto doméstico. Não queria acreditar... Tudo limpo e organizado. Tudo tão... perfeito. Depois de três meses o meu corpo reagia com violência a esta dose de normalidade ocidental. Parecia que tinha regressado à europa.
Com a hora avançada - e o espanto para trás - procurava um lugar para pernoitar. O meu plano original era ficar no local de espera. Claro que fazer planos aqui apenas servem para falharem, e sou barrado à entrada do aeroporto internacional. “Too early” dizem-me enquanto sugerem que vá para uma outra sala de espera num dos cantos do aeroporto. Tento seguir a sugestão, mas antes de entrar na sala vejo um sinal informando-me que a permanência naquele local custava 70 rupias cada hora. Num assomo de avareza, penso que o limpissimo chão do aeroporto dá uma óptima cama.
Depois de encontrado um local agradável, lá me instalo. Bem perto de outros passageiros que tentam fazer o mesmo. A união faz a força, e nestas coisas não gosto de estar sozinho. E com um ajeite aqui, um encolhimento ali, já me sentia numa verdadeira cama. Era altura de poder sonhar...
“Excuse me...” acordo sobressaltado com este comentário. Era um policia. Por esta altura já consegui ler na sua cara o que me queria transmitir. Primeiro com uma cara mais rude - talvez a pensar que era indiano - depois com uma cara mais gentil quando ouve que sou estrangeiro. E de uma forma muito educada diz-me para sair dali e ir para a sala de espera. Eu explico-lhe que não quero pagar o dinheiro, e ele diz-me, para meu espanto, que apenas preciso de mostrar o bilhete.
Lá regresso ao local que tinha estado uma hora antes e o meu espanto não termina. Depois de vaguear à procura de um lugar, reparo que têm chaise longues para descansar. Enquanto vou ajeitando o meu corpo - e deixando-me embalar pelo sono - guardo os meus últimos pensamentos. Sorrio ao imaginar quão os turistas devem ser enganados com a chegada a este local, antes de enfrentar todos os desafios que a incrivel India tem para dar.
No dia seguinte, tudo foi mais mecânico. Talvez a ansiedade superava o dia de despedida. Com tudo programado, rapidamente me encontrava no meu lugar no avião. Olhava à minha volta, e os rostos das pessoas não enganavam. Estava a ir para um novo país. Os traços da asia oriental já penetravam as faces dos passageiros. Quando é anunciado que estamos a chegar, sinto de novo aquele arrepio de uma nova aventura. Era altura de cumprimentar um novo país.

No comments:

Post a Comment