Sunday, April 15, 2012

What a Ride...

Chegamos da India convencidos que sabemos tudo. E com motivos para tal. É um dos países mais exigentes. Neste caso pensava que pouco me surpreendiria uma viagem de autocarro. Como estava enganado. Qualquer viagem no Nepal, faz parecer uma viagem na India algo luxuoso.

A melhor de todas foi a viagem que me transportou de Kathmandu para Syabru Besi na região de Lang Tang. Como todas, esta começa com a compra do bilhete. Uma pequena barraca junto de um autocarro é o sitio oficial de venda. O parque de autocarros é imenso e quase que parece constituir uma pequena cidade de autocarros, feira e muito pó. Com o bilhete na mão entramos para um daqueles autocarros multicoloridos que constituí uma imagem icónica. O meu lugar é mesmo por detrás do condutor e a idade do mesmo destroi a minha máxima de que “se o condutor faz isto há muito tempo e ainda é vivo é porque sabe o que está a fazer”. Nada que me preocupe. Sei que não tenho alternativa se quero ir.

A aventura começa logo à saída de Kathmandu, onde a serpente a que chamamos estrada começa. Nunca se pode atingir muita velocidade, mas os nossos sentidos dizem o contrário. Uma colina que parece começar debaixo do autocarro e uns saltos motivados pelas lombas do caminho é o suficiente para fazer disparar qualquer coração – por mais insensível que seja.


Lá dentro as pessoas ocupam os seus bancos, construídos à dimensão do Nepal. Aqui, é o primeiro país onde me sinto um gigante, e os meus joelhos competem por espaço com o banco da frente. Há falta de lugar, existe sempre o telhado, que acaba por transportar malas, pessoas e animais.

A banda sonora vai variando, entre música pop nepalesa e indiana. Ou pelo menos é o que a minha imaginação me diz, pois os meus ouvidos não conseguem distinguir a diferença. Tudo pacífico. O corpo habitua-se aos solavancos e o resto é alimento para os sentidos.

E quando pensava que assim seria até ao destino final, heis que um fumo vindo do motor e um motorista a gritar algo que não entendo lança mais emoção na viagem. E nem preciso de perceber nepalês para saber o que fazer. Se um motorista, no meio do fumo, pára o autocarro e sai do mesmo a gritar, eu faço exactamente o mesmo. Como eu, todos o fazem e rapidamente o espaço não é suficiente para sairmos ao mesmo tempo. Nada que um pouco de prática e empurranço não ajude a resolver. Em 5 segundos todos estavamos fora do autocarro a perguntar quanto tempo demoraria a o problema ser resolvido.
Mas como há males que vêem por bem, esta pequena pausa é suficiente para apanhar um pouco do ar. Já nos encontramos o suficiente alto para ter uma noção de montanha. Por entre cigarros, pequenas conversas e confirmação de que o problema ainda não está resolvido, o tempo passa rápido. E quando uma fila se começa a formar, o nosso autocarro ruge uma vez mais e retomamos o nosso caminho.

Depois veio as curvas e contra-curvas. Pelo meio mais uma paragem a pedido de um pneu furado. Desta vez nada que demore muito tempo. E enquanto o bus vai seguindo não deixo de ficar espantado com a paisagem. Por vezes parece que voamos. Na minha cabeça fica impresso a imagem do cobrador de bilhetes. Ele agarra-se à porta aberta e fica na posição de pendura. Por detrás dele é impossível distinguir mais que o pleno ar e as montanhas do outro lado da colina. Ele parece um falcão que acompanha por magia este autocarro. E eu, deixando-me embalar pelos solavancos, vou dormitando até chegar ao meu destino final, com um sorriso de quem fez uma difícil mas inesquecível viagem.

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