Uma pessoa habitua-se às facilidades.
Depois de ultrapassado o choque “cultural” de estar num país
desenvolvido, as preocupações de comprar um bilhete de comboio
esfumaram-se. Com toda a calma dirigi-me à estação de Ayuthaya.
Parte do caminho foi feito de barco. Tempo para apreciar as casas de
madeira e a pacatez das pessoas. O pôr-de-sol refletia na água e
pintava tudo à sua volta. Eu sorria, contente com a minha sorte.
Ao chegar, sou recebido pelo cheiro
intenso de comida. O estomâgo comanda-me para a confusão das
refeições. Escolho um “clássico”: sticky rice e manga.
Satisfeito, sigo para a pequena estação de Ayuthaya. O branco das
suas paredes fazem-me recordar outras do meu país. E a ordem – ou
desordem – quase me levam de volta a casa. Apenas os meus olhos e o
cheiro a comida – existem barracas um pouco por todo lado – me
dizem o contrário. Pergunta puxa pergunta e estou na bilheteira. Em
menos de três tempos já o tenho na mão.
No dia seguinte - e com mais 18 kilos
nos ombros - regresso. As letras escritas no quadro, perto do posto
de informação, dizem-me que o comboio chegará a horas. Mas não
existe horário que aguente a pontualidade tailandesa. Foi uma
questão de tempo até que o pontual se transformasse em atrasado.
Uma hora depois da prevista, lá chega. Com o bilhete na mão e o
lugar memorizado entro para este animal metálico.
Mal estou no corredor, sinto um
arrepio... não de frio mas de espanto. Já não estou habituado a
tanto conforto e limpeza. Quase parecia um hotel de luxo. E com este
olhar de espanto entrei para o meu compartimento. Os meus
companheiros de viagem já tinham tomado o seu lugar.
E do espanto passei à curiosidade. Ao
ver o tamanho do espaço, não percebia como poderia arrumar a
backpack. Olhava para debaixo das camas e nada. Naquele quarto, de um
branco imaculado, a minha mochila não tinha lugar. Ao ver a minha
incapacidade, um dos meus colegas mostra o lugar das mochilas. De
tanto viajar na India, esqueci-me qual era lugar normal: mesmo por
cima da porta. Entre sorrisos e ajudas lá consigo colocar a minha
pesada companheira.
Tempo para descansar e aproveitar a
viagem. No meio deste confortável comboio, a paisagem ficou ainda
mais bela. A caminho do norte, atravesso a montanha e a selva típica
desta região. Não deixo de sorrir, enquanto os meus olhos bebem o
verde das árvores, os ouvidos a sinfonia dos carris e os
pensamentos flutuam para o mundo dos sonhos...
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