Thursday, January 19, 2012

Crónica: Apaixonado em Cochin


Foi paixão à primeira vista. Mesmo de madrugada Cochin tinha um charme que me conquistava. Mal conseguia esperar por ver este local. Um istmo em forma de ilha. Queria saborea-lo com a luz solar e um corpo rejuvenecido por uma noite bem dormida.

Mantacherry

Pela rua que nos leva ao bairro judeu, sentimo-nos numa aldeia. As casas, quase todas vivendas de um andar ou moradias térreas, guardam o sabor colonial. Foi um terra ocupada por portugueses e holandeses que deixaram as suas marcas. Tal como em Goa, tudo isto é fundido pela cultura indiana. Casas coloniais, igrejas e templos hindus convivem lado a lado. Tudo em harmonia, como apenas a India consegue dar.

O bairro judeu é uma zona comercial, com ruas estreitas. Guarda, mais que qualquer outro local, uma intemporalidade. Os comerciantes chamam-nos para a sua loja, sempre com a promessa de “no harrassement”. Convite que acabo por negar. Não estou em compras e prefiro fazer apenas window shopping. Encontramos lojas de antiguidades, de especiarias ou de tecidos. Os carros passam aqui e ali, mas o movimento é quase todo pedonal. Acabo por chegar à pequena sinagoga para a encontrar fechada.

Sigo então para o meu próximo destino: o Palácio Holandês. Na realidade o edificio foi construído pelos portugueses e oferecido ao Raja de Cochin. Mais tarde, no sec. XVII, os holandeses renovaram-no, e ele adoptou este nome. “Algo injusto” penso enquanto me passeio por este belo local. A casa é de madeira, e os seus salões têm a mesma sensaçao doce de abandono que toda a cidade guarda.

Fort Cochin

Parto do palácio para chegar à zona do Forte Cochin. Pelo caminho atravesso a Bazaar Rd. E como se aprende, o nome Bazaar é equivalente a uma saudável mistura de confusão e comércio. Pela rua estreita passam muitas pessoas e viaturas. Dois camiões parecem conseguir alargar a estrada para conseguirem seguir os seus caminhos. Antigos armazens, são hoje lojas, mercados de especiarias ou sede do partido comunista. Um dos pontos mais interessantes deste estado é que ele deve ser o único caso de sucesso de um Partido Comunista. Foi em Kerala que pela primeira vez um Partido Comunista foi eleito democraticamente. E ainda hoje mantém o poder. Com uma taxa de sucesso assinalável. Desta forma não é de estranhar que encontramos a foice e o martelo um pouco por todo o lado.
Chego à zona do forte cochin, pela área das redes de pesca chinesa. Esta é uma estrutura de madeira que mergulha uma rede de pesca no mar. A zona é um belo postal e combina a atracção turista com o trabalho diário. Não se percebe se os pescadores são modelos para as nossas fotografias estilizadas, ou se conseguem obter o seu proveito desta tarefa - que ocupa cerca de seis pessoas por estrutura.

Daqui parte uma pequeno passeio que acompanha a costa. Pelo caminho, temos as barracas de comidas e artesanato, os amigos que decidem passar um momento a contemplar o mar ou então pedaços do forte que dá nome a esta zona. Mais à frente chegamos à pequena praia, onde indianos aproveitam o calor para dar um mergulho no mar. Retorno a casa por outro caminho que me leva à Basilica e Igreja de S. Francisco. Dois sítios que atestam o passado colonial deste local.

Backwaters

Acabo por chegar às Backwaters através de uma tour que sai de Cochin. E mal podia esperar por vê-las. É um dos grandes highlights desta zona. Cada fotografia ou descrição aumentava a minha expectativa. E todas se confirmam. As backwaters são um pequeno paraíso na terra. Esta zona alagada, com pequenas ilhas que ladeiam os canais dão-nos um cenário idílico. O passeio de barco é algo obrigatório (uma obrigação que não custa cumprir). A manhã foi passada na zona do lago. O nosso guia leva-nos a uma fábrica abandonada. Informa-nos como a vida é em algumas ilhas onde não existe água potável, ou como os barcos são o equivalente aos nossos carros por aquela zona.

À nossa volta outros turistas, alguns pescadores de mexilhões e os passáros compõe o postal em que vivemos. À tarde, vamos para a parte dos canais mais estreitos. Estes, criados pelo homem, atravessam várias casas, e podemos ver um pouco do quotidiano desta comunidade. Quer seja a sesta, o tecer de cordas, ou o arar dos terrenos, tudo é um delicioso pormenor. Na memória fica o silêncio ruidoso da selva. Estamos no meio da Natureza, e ela canta para nós.

Uma paixão torna-nos parcial. E nesta zona não existiu nada que eu pudesse dizer que era negativo. Tudo me pareceu belo e encantador. Tal como sempre parece a uns olhos apaixonados.

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