Sunday, January 29, 2012

De Munnar a Madurai


E ali estava eu. Sentado na paragem de autocarro de Munnar, a ouvir o meu novo “amigo” indiano. Tentava vender-me uma viagem até à fronteira com Tamil Nadu. Tinha perdido o autocarro, e o próximo só vinha às 13 horas, algo que não me atraia. Enquanto ele dizia o preço espetacular que me oferecia, pensava nas opções que tinha.

A primeira - a “oficial” para o meu “amigo” - era esperar até ao autocarro chegar. Essa viagem era apenas um terço do caminho, e tal significava que, com sorte, chegaria de noite a Madurai.. A segunda opção, era aceitar a viagem de 600 rúpias até à fronteira e continuar por bus o resto do caminho. Mas tinha acordado forreta e provavelmente esta custaria 10 vezes mais que o normal. A terceira opção seria apanhar um taxi até Madurai. Apesar do preço astronómico de 2600 rúpias, esta opção garantia que chegava ainda nesse dia ao meu destino.

Com as opções na cabeça deixava o tempo correr para ser menos “interessante” ao meus novos “amigos” - sim, por esta altura já tinha desperto a atenção de mais pessoas. O tempo cura todos os males, e neste caso todos os interesses. Meia-hora depois, já estava livre para confirmar as minhas opções e saber se o preço dado era o normal. Convém confirmar a informação por várias fontes. Uma verdadeira lição de bom jornalismo. Pelo caminho redespeço-me de Dotan e recebo a dica para apanhar o jeep colectivo que ia para a fronteira.

De volta à paragem, sigo em direcção aos jeeps. Encontro um que está quase a sair. “Onde me sento?” Pergunto para receber a resposta óbvia “aqui”. O “aqui” significa um dos bancos laterais da traseira do jeep, num espaço que parecia não “aguentar” mais uma pessoa. Quanto mais uma com duas mochilas de viagem. Mas neste país existe sempre espaço para mais um e lá se arranja um para mim, as minhas mochilas e uma pessoa mais.

Encolhido, e apenas com a ponta do pé a tocar o chão, lá me instalo. Olho à minha volta e todos os lugares parecem ocupados. Ilusão de principiante. Só porque os 6 lugares à minha frente estão ocupados por 6 pessoas tal não significa que o Jeep esteja cheio. Enquanto olho as pessoas à minha volta, apanho o sorriso de uma criança a admirar este ocidental. Algo que me conforta a alma, e que, por si só, valeria a viagem. Quando arrancamos, somos: um motorista, onze adultos, três crianças e umas quantas mochilas.

A viagem, pelo meio das montanhas, foi passada entre tentativas de não voar para o lugar à minha frente, aguentar o máximo de tempo sem me enjoar e a admirar a bela paisagem por onde passava. Esta era uma lufada de ar fresco na minha atribulada viagem.

Duas horas e muitas curvas depois, eramos sobreviventes. Por fim a fronteira entre estados. Tentávamos recuperar o sentido de orientação para a pequena caminhada até Tamil Nadu. Sorrio. Agora só faltava apanhar o autocarro para Madurai. Pelo menos é o que me tinham dito. Depois de consultar o polícia do posto fronteiriço, descubro que ainda tenho de apanhar um bus até outra localidade e só daí é que posso ir para Madurai. Enquanto aguardo pelo autocarro, reparo na beleza desta aldeia fronteiriça. A sensação é que estamos no fim do mundo à beira de entrar noutro. Pouco mais tem que uma estrada, a fronteira e as lojas de rua. Mas está no meio das montanhas e tem uma vista ampla sobre tudo à sua volta.

Ouço o nome da localidade para onde quero ir e o condutor dá-me indicações para entrar. É um taxi colectivo. Aceito o preço e entro no Embassador, um clássico. Apesar da lotação indiana, com o conforto e espaço que tenho, pareço estar numa limusine. Maneira perfeita de me despedir destas belas montanhas. À minha frente vejo a planície cheia de arrozais e palmeiras. Cenário que me acompanhará nos próximos dias.

Chegamos finalmente ao terminal de autocarros. A natureza é agora uma recordação. A substituir tenho a companhia do movimento e barulho desta pequena cidade indiana. Depois de algumas perguntas, encontro finalmente o autocarro. Entro e aguardo que chegue ao destino final. Pelo caminho, tempo para saborear o descanso e uma paisagem tão diferente da que tinha abandonado.

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